Já é um clássico anual que chega em todo 1º de julho: as redes sociais de empresas, organizações, influenciadores e instituições retiram as fotos e campanhas de bandeiras do arco-íris e, com o fim de junho e do Mês do Orgulho, voltam para um mundo em que pouco importa a representatividade da comunidade LGBTI+. É o que fez rapidamente as contas oficiais da FIFA, para a surpresa de zero pessoas após anunciar que a Copa do Mundo 2022 seria realizada no Catar.

Durante todo o mês de junho, a entidade máxima do futebol até se mostrou comprometida em compartilhar o máximo de informações e homenagens de outras contas relacionadas ao esporte, principalmente de seleções e clubes. Em relação a um conteúdo próprio, entretanto, pouco se viu.

A principal ação da FIFA foi divulgar a parceria com a FIFAPro para combater o discurso de ódio na internet. Isso depois que um estudo analisou mais de 400 mil publicações em diferentes plataformas digitais durante as semifinais e finais da UEFA Euro 2020 e da Copa das Nações Africanas 2021. Com a ajuda da inteligência artificial, eles identificaram que cerca de 50% dos jogadores receberam mensagens de ódio, a maioria de cunho homofóbico (40% das mensagens), seguida de perto pelas de cunho racista (38%).

Segundo a FIFA, um serviço para moderar essas mensagens será lançado ainda em 2022, a fim de evitar que elas sejam vistas pelo destinatário e por seus seguidores. O plano deve ser colocado em prática para a Copa do Mundo do Catar no final deste ano e também será usado na Copa do Mundo Feminina da Austrália e Nova Zelândia, em 2023.

Mas como combater o discurso de ódio online durante o Mundial do Catar se, no offline, o evento continua permeado por repressões à liberdade da expressão sexual e de gênero, por exemplo? A FIFA garante que está trabalhando para fazer da Copa um evento de “união e diversidade”, mas em um país onde não são respeitados os direitos básicos para mulheres ou para a população LGBTI+.

Ainda assim, a entidade afirmou que vai treinar todo o staff envolvido na competição, incluindo as forças públicas e privadas, para lidarem melhor com essas questões. Também prometeu implementar um sistema que identifique a LGBTIfobia dentro e fora dos estádios. No entanto, nenhuma palavra foi dita ou escrita sobre a proibição de bandeiras do arco-íris na Copa do Mundo 2022 por parte do governo catari.

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A Copa do Mundo do Catar é uma herança de Joseph Blatter, ex-presidente da FIFA que ocupou o cargo entre 1998 e 2015, em cinco mandatos recheados de casos de corrupção. Quando o atual mandatário Gianni Infantino assumiu o posto depois de Blatter, precisou lidar com a decisão tomada em 2010 de disputar o Mundial em um país do Oriente Médio. E não parece que ele tenha lidado tão bem assim com esse desafio.

A última edição da Copa do Mundo FIFA, na Rússia, já deu problemas similares antes mesmo de a bola rolar. Nada foi feito então. Como mostramos aqui, o ativista britânico Peter Tatchell foi detido em Moscou, horas antes da cerimônia de abertura, por ter levantado um cartaz com os dizeres “Putin falha ao agir contra as torturas de pessoas LGBTs na Chechênia“.

Seja por razões políticas e/ou financeiras, enquanto a FIFA não se posicionar diretamente contra as violações de direitos humanos do Catar e dos outros países que sediam a Copa, qualquer discurso pró-diversidade se torna tão vazio quanto uma foto de perfil colorida que dura apenas 30 dias.