Mais de 100 jogadoras de futebol assinaram uma carta aberta à FIFA criticando o novo patrocínio da entidade com a Saudi Aramco, companhia petrolífera estatal da Arábia Saudita, país conhecido pelas violações de direitos humanos contra mulheres e LGBTQIA+. Publicada nesta segunda-feira (21) e endereçada ao presidente Gianni Infantino, a carta tem como título: “O patrocínio da Aramco é um dedo do meio para o futebol feminino”.
Recentemente, a FIFA anunciou um novo patrocínio com a Aramco até 2027, o que vai permitir à empresa ter seu nome nos eventos da Copa do Mundo de 2026, nos EUA, México e Canadá, e também na Copa do Mundo Feminina de 2027, que será realizada no Brasil, bem como todo e qualquer torneio organizado pela entidade máxima do futebol nos próximos três anos.
Uma das líderes do movimento é a holandesa Vivianne Miedema, que foi vice-campeã mundial com a Holanda em 2019. “Esta carta mostra que, como jogadoras, é isso que não queremos defender e aceitar no futebol feminino. É simples: este patrocínio contradiz os próprios compromissos da FIFA com os direitos humanos e o planeta”, diz a atleta.
Aos 28 anos e atualmente no Manchester City, Miedema é uma das 14 jogadores LGBTQIA+ que assinaram a carta, ao lado das irlandesas Diane Caldwell, Sinead Farrelly e Lily Agg; as neozelandesas Erin Nayler e Meikayla Moore; as finlandesas Linda Sällström e Tinja-Riikka Korpela; a australiana Alex Chidiac; a canadense Erin McLeod; a escocesa Lisa Evans; a belga Ella Van Kerkhoven; a alemã Paulina Krumbiegel; e a espanhola Maitane Lopez.
Nenhuma brasileira assinou a carta, que foi coordenada pelo grupo Athletes of the World.
Em mais um trecho da publicação, as atletas afirmam que “as autoridades sauditas atropelam não só os direitos das mulheres, mas também a liberdade de todos os outros cidadãos. Imaginem as jogadoras LGBTQ+, muitas das quais são heroínas do nosso esporte, promovendo durante a Copa do Mundo de 2027 a Saudi Aramco, empresa petrolífera nacional de um regime que criminaliza seus relacionamentos e os valores que elas defendem?”.
Histórico problemático da FIFA com direitos humanos e Arábia Saudita
Essa não é a primeira vez que a relação da FIFA com a Arábia Saudita causa tribulação no futebol. Antes da Copa do Mundo Feminina de 2023, realizada na Austrália e na Nova Zelândia, a FIFA arquivou os planos de patrocínio com a Visit Saudi, braço oficial do turismo saudita. Uma reação negativa das jogadoras – incluindo Miedema – e dos organizadores da edição fez com que o acordo fosse cancelado. A Arábia Saudita também está na fila para sediar a Copa do Mundo Masculina de 2034, sendo atualmente a única candidata ao torneio.
Na carta publicada nesta segunda, as atletas ainda fizeram três questionamentos à entidade: “1. Como pode a FIFA justificar este patrocínio tendo em conta as violações dos direitos humanos cometidas pelas autoridades sauditas?; 2. Como pode a FIFA defender este patrocínio, dada a responsabilidade significativa da Saudi Aramco na crise climática?; 3. Qual é a resposta da FIFA à nossa proposta de criação de um comitê de revisão com representação dos jogadores?”.
Após a carta, a FIFA divulgou um comunicado à imprensa afirmando que “valoriza a sua parceria com a Aramco” e que é “uma organização inclusiva com muitos parceiros comerciais que também apoiam outras organizações no futebol e em outros esportes”.
A FIFA acrescentou: “As receitas de patrocínio geradas pela FIFA são reinvestidas no jogo em todos os níveis e o investimento no futebol feminino continua aumentando, inclusive para a histórica Copa do Mundo Feminina de 2023 e seu novo modelo de distribuição inovador”.
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