Há pouco mais de três anos, Tifanny Abreu estreou na Superliga Feminina de Vôlei, tornando-se a primeira atleta trans a participar da principal liga do Brasil. Ainda hoje, a oposto do Sesi Bauru sofre com críticas dentro e fora das quadras, mas afirma que muitos já mudaram de opinião a seu favor. Na última semana, ela foi convidada para estrelar uma campanha da Adidas e, quase imediatamente, a marca foi ameaçada de boicote nas redes sociais.
“Muitas pessoas pensam que era só ser trans e que poderia jogar. Mas precisa ter laudos, fazer a hormonização corporal, e sofri bastante. Depois de quatro anos, as pessoas começaram a estudar e viram que as mulheres trans não têm vantagem em cima das mulheres cis. Quem era contra hoje está a favor e do meu lado”, disse em entrevista publicada pelo Estadão na terça-feira (27).
“A história do esporte mostra isso, pois teve a primeira vez de um atleta negro, a primeira mulher, a primeira trans…”, conta Tifanny, que ganhou mais destaque nos últimos dias ao ser escolhida para a campanha internacional da Adidas sobre inclusão e diversidade, ao lado de figuras como Beyoncé e Siya Kolisi, o primeiro capitão negro do time de rugby da África do Sul.
“Costumo dizer que toda borboletinha nasce como lagarta. Quando vira borboleta, fica linda. Eu lutei, sofri muito preconceito e agora estou colhendo os frutos do trabalho. Estrelar uma campanha global é o sonho de muitas garotas. E para mim, para minha família, para o esporte e para as pessoas LGBTs é motivo de orgulho. Estampar a cara de uma mulher transexual mostra que nada é impossível, que é o mote da campanha. Muitos acharam que eu não iria conseguir, mas já estou há anos nisso e consegui”, refletiu.
Aos 36 anos, ela está chegando em uma idade mais avançada para o esporte, em que precisa cuidar mais do corpo para evitar lesões. Tifanny não esconde que sonha com uma oportunidade na seleção, mas acredita que seu principal papel é abrir portas para outras meninas trans e que vai continuar lutando por isso frente às adversidades. Nas redes, sua inclusão na campanha da Adidas foi o suficiente para que alguns conservadores começassem a ameaçar a marca de boicote.
“Se eu desistir, muitas outras vão acreditar que minha desistência foi por pressão e pode fazer com que outras meninas não vejam futuro nisso. Estou lutando para que todas tenham sua chance”, finalizou.
Nada é impossível para Tifanny Abreu.
Mulher trans. Atleta profissional.
Tifanny viu as possibilidades no impossível.
E você, que possibilidades vê?#impossibleisnothing pic.twitter.com/nu0ea9lJb5— adidasbrasil (@adidasbrasil) April 20, 2021
Ainda em 2018, durante seu primeiro ano como oposto no Sesi, Tifanny contou à Híbrida como foi o processo de continuar jogando vôlei após a sua transição de gênero: “A decisão veio quando recebi propostas de outros países. Eu pensava em fazer o meu melhor [no esporte] e conseguir um suporte para que a Tifanny nascesse de verdade. Eu não aguentei mais prendê-la e então decidi largar meu time e o vôlei para viver a Tifanny completamente”.
Na época, ela já precisava se defender da transfobia no esporte, praticada especialmente por quem defende que ela teria vantagem sobre as jogadoras cisgênero: “Quem me critica deveria fazer uma transição para ver se é exatamente isso que eles pensam. Eu sei o que passo. Se eu tivesse a mesma força de antes [da transição], eu não teria coragem de estar jogando ali, entende? Porque seria sim uma injustiça. Mas eu faço tudo direitinho para estar dentro da lei e sobra apenas o meu talento. Até porque, se eu passar do limite, sou pega no doping e tomo uma punição de dois anos”.