O retorno do Carnaval já vem empolgando foliões, com bloquinhos e festas divulgadas, as fantasias tiradas do armário e rainhas de bateria já ensaiando para o grande desfile. Mas, antes de musas como Luma de Oliveira, Luiza Brunet, Viviane Araújo e Sabrina Sato marcarem o legado dos sambódromos, foi Eloína dos Leopardos, uma travesti, quem deu início ao posto mais disputado das agremiações.
Em 1976, Eloína desfilou para a Beija-Flor de Nilópolis como a primeira rainha de bateria do Carnaval carioca – posto que ocupou na escola de samba até 1978. Aos 31 anos, ela foi convocada pelo carnavalesco Joãosinho Trinta, a partir do figurinista Viriato Ferreira, que ficou encantado pela Musa dos Leopardos após vê-la garantindo o segundo lugar no concurso de um baile de Carnaval, em 1975, trajando apenas biquíni branco e penas de faisão.
Aos 14, começou a trabalhar como camareira de vedetes – nome dado às atrizes da época – no Teatro Carlos Gomes e, 7 anos depois, em 1966, passou a se apresentar nas casas noturnas de Copacabana sob convite do produtor Carlos Machado.
Com a volta e reforço da ditadura militar, em meados de 1969, a Musa dos Leopardos teve de se mudar para Paris, onde continuou dedicando-se à cena artística. A cidade acabou se tornando uma segunda casa para Eloína, que transitou entre a França e o Brasil ao longo dos próximos 30 anos.
Quando voltou para o Rio de Janeiro e desfilou para a Beija-Flor, em 1976, sob o enredo “Sonhar com Rei Dá Leão”, chamou a atenção de todos que ali estavam presentes – incluindo o prefeito da época, Marcos Tamoyo -, e deu à escola de samba a vitória no Carnaval carioca daquele ano.
Em 2016, Eloína integrou o elenco de Divinas Divas, ao lado das amigas de palco Rogéria, Jane di Castro, Camille K, Fujika Di Halliday e Brigitte de Búzios. Sob direção de Leandra Leal, o documentário traz a história dos ícones da primeira geração de artistas travestis/transformistas do Brasil e o histórico de resistência do Teatro Rival durante a ditadura militar.
O filme, que chegou aos cinemas em 2017, venceu prêmios no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, assim como o Félix e a categoria de Melhor Documentário na edição de 2016 do Festival do Rio.
Atualmente, Eloína vive em São Paulo e é frequentemente vista no Bar da Onça, onde trabalha há mais de 10 anos. Apesar de estar afastada da agitação, seu nome permanece eternamente marcado na cena carnavalesca e LGBTQIA brasileira.