Na última quarta-feira (19), em celebração ao Dia dos Povos Indígenas, as deputadas federais Célia Xakriabá (PSOL-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP) protocolaram um projeto de lei que propõe a inclusão de Tibira do Maranhão, indígena considerado a primeira vítima da homofobia do Brasil, no Livro dos heróis e heroínas da pátria.
“Tibira do Maranhão foi executado em 1614, com uma bala de canhão, pelos que faziam do Brasil uma colônia subserviente, e que tinham como objetivo dizimar os povos originários, acabar com suas culturas e despi-los de qualquer orgulho que tinham de si. Hoje, então, se faz necessário de reconhecer o heroísmo de Tibira do Maranhão, ao ousar ser quem se era e por defender seu território, incluindo seu nome no livro dos heróis nacionais brasileiros”, escreveram as deputadas nas redes sociais.
Nesse dia 19 de abril, protocolamos esse projeto que inclui Tibira no livro Herois da Pátria. Mais uma ação pela diversidade e rompendo o racismo da ausência. Ele foi vítima do 1° caso de homofobia noticiado. Uma parceria com a companheira @ErikakHilton ! pic.twitter.com/i9JMbQN1Qk
— Célia Xakriabá (@celiaxakriaba) April 19, 2023
Em 2014, o indígena chegou a ser homenageado pelo Grupo Gay da Bahia, que lançou uma campanha a favor de sua canonização como o primeiro mártir gay indígena brasileiro. Dois anos depois, uma lápide foi instalada na Praça Marcílio Dias, no centro da capital maranhense, em sua homenagem.
Tibira, termo tupi utilizado para designar aqueles que não se encaixavam nos padrões ocidentais de sexualidade, foi perseguido e torturado sob ordenação do missionário francês Yves d’Évreux, da Ordem dos Capuchinhos, pela prática da “sodomia” e por, segundo ele, parecer “no exterior mais homem”, mas ser “hermafrodita” e ter “voz de mulher”. Embora tenha tentado escapar, o indígena foi capturado e executado em praça pública.
Atualmente, o resgate de seu legado nos ajuda a perceber como o apagamento e hostilização às diferentes sexualidades dos povos indígenas foram um dos grandes males trazidos pela colonização. De acordo com o antropólogo Estevão Rafael Fernandes, “a visão que o colonizador tem sobre como é um indígena não se encaixa no indígena de carne e osso […] o colonizador lhe impõe, historicamente, um simulacro, um dever-ser”.
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