Um dos maiores nomes não só da cena drag brasileira como da música pop nacional, Gloria Groove está percorrendo o país com a turnê “Fase 3”, que reúne os maiores sucessos de seu catálogo, como “Menino bom”, “Bumbum de Ouro”, “Apaga a luz” e “Yoyo”. “No palco, eu mostro três lados de mim”, contou a artista à Híbrida durante a estreia do espetáculo, no AudioClub, em São Paulo.

A construção do show passa pela história da humanidade, como ela mesma explica, através de três narrativas: a primeira, Selvagem, simboliza o lado primitivo; em seguida, a seção dos Sentimentos, onde ela solta a voz com baladas de R&B, faz alusão ao Renascimento; e, por fim, a parte Progressista do show, com elementos futuristas. “O número três traz essa ideia de equilíbrio entre alma, corpo e espírito – é a sensação que tenho agora”, explica.

Apesar de ter se tornado, em abril deste ano, a drag queen mais ouvida no Spotify global, Gloria revela que levou um tempo para decidir como se posicionar na indústria da música, que passa por transformações na era do streaming. “Demorei muito a entender que eu tinha construído o meu próprio ritmo de lançamentos dentro do meu contexto, dentro do meu país”, pontua.

Dona de uma base de fãs ávida por novidades, ela explica que sente pressão interna e externa para lançar um álbum, mas prefere não apressar sua produção. “Eu também me alimentei de uma era quando o que entendia como carreira pop era fazer álbum, divulgar aquilo em turnê e vida que segue, parte pra próxima. Mas um disco é muito mais do que encher uma playlist de singles”, avalia, contando que, quando for lançar um LP, pretende tirar tempo para “pensar na história que ele vai contar”.

Preconceito não é uma coisa que se apaga e se esvazia com notoriedade ou reconhecimento

– Gloria Groove

Gloria explica que a turnê “Fase 3” foi concebida de forma versátil, para que pudesse ser executada em qualquer lugar: “Eu não tenho uma entrada fácil, ao contrário do que muitos podem achar. Preconceito não é uma coisa que se apaga e se esvazia com notoriedade ou reconhecimento. É dificílimo empurrar uma pauta, ou uma drag em um festival de banda, por exemplo”.

Em suas redes sociais, Gloria já acumula mais de um milhão de seguidores no Instagram, 300 mil no Twitter e muitos mais por seus vídeos no Youtube. Com o alcance do seu trabalho, além da notoriedade veio também a responsabilidade em se tornar ídolo para uma geração de fãs jovens, crianças e adolescentes, que a acompanham e se inspiram nela.

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“Quando eu tinha 12, 13 anos, não tinha um ídolo no meu contexto social abertamente LGBTQ que eu pudesse me inspirar, de fato. Fui buscar isso lá fora, nas cantoras e no material da gringa. Pensar que eu não tive isso e agora posso ser esse ídolo pra alguém é a melhor coisa da minha vida. É quando eu sinto que o trabalho se completa – estou alimentando a próxima geração de algo que eu gostaria de ter tido”, conta com orgulho.

O carinho dos fãs mirins, Gloria aponta, ainda traz um prazer especial: “Você percebe o quanto entra no imaginário infantil e a figura da drag queen é essa coisa super fantasiosa. Eles não enxergam um pingo de maldade, a mentalidade da criança vai completamente contra essa onda conservadora meio tosca. Ela consegue ver a diversão que tem [em ser drag queen]”.

Quero passar uma mensagem através da imagem

Gloria conta que, com a exposição vem a sensação de dever em se atualizar sobre o que acontece no mundo e, a partir disso, construir uma relação mais direta com seus fãs: “Quero passar uma mensagem através da imagem. Meu trabalho e a arte drag são sobre isso – expandir e conseguir visitar qualquer universo através dessa imagem mutável. Afinal, travestis e as drag queens sempre estiveram à frente de qualquer movimento em prol dos direitos LGBTQ – não é opinião, é fato”.

Em setembro, Gloria se apresenta em Chapecó (SC), dia 7; Brasília (DF), dia 8; e no palco sunset do Rock In Rio, dia 27.