Na coluna de abril com os principais lançamentos musicais de artistas nacionais e internacionais LGBTQIA+, Fabiano Moreira* comenta uma leva de novidades que inclui os álbuns de Anitta, Almério, Pabllo Vittar, Duda Beat, WD e Enme; o EP de L’homme Statue; o bundle de Jaloo e os singles quentinhos de Orville Peck com Willie Nelson, Leopold Nunan e Dornelles.

Abaixo, confira a seleção. E não deixe de seguir a nossa playlist para não perder os próximos lançamentos.

Anitta – “Funk Generation”

Anitta conseguiu entregar o melhor álbum de sua carreira com Funk Generation, que apresenta ao mundo o ritmo que a revelou, reprocessado de forma pop por meio de produções excelentes de nomes como Tropkilllaz, que assinam três faixas: a maravilhosa “Lose Ya Breath”, que abre o volume com o astral lá em cima, “Love In Common” e “Savage Funk”. A dupla também mixou a belíssima “Ahi”, duo com a estrela Sam Smith, produzida pelo Stargate, que é a minha favorita. Outros produtores envolvidos são Os Chapas, DJ Gabriel do Borel, Brabo Music (Zebu, Maffalda, Gorky e Pablo Bispo) e o gringo Jason Evigan. O álbum já nasce excursionando por América do Sul (México, Colômbia, Peru, Chile e Argentina) Estados Unidos (Los Angeles, Miami, Orlando, Boston, Chicago e Nova York), Canadá e Europa (Alemanha, Amsterdã, Londres, Paris, Ibiza, Madri, Barcelona e Milão). Em tempo, “Cria de Favela” levanta qualquer baile!

Almério – “Nesse Exato Momento”

O pernambucano Almério firma seu nome como estandarte da nova música brasileira com seu quarto álbum de inéditas, Nesse exato momento (Deck), com participações de estrelas da MPB, como Maria Bethânia e Zélia Duncan, e também de novos e grandes nomes, como Chico Chico, Mariana Aydar, Juliana Linhares e Zé Manoel. O disco fala de amor sob a produção impecável de Juliano Holanda, com letras do próprio Almério em parcerias com compositoras mulheres, como Ana Paula Marinho, Joana Terra, Ezter Liu e Isabela Moraes. Bati um papo com o artista para a Sexta Sei, no qual conversamos sobre a importância de falar do amor, de essas parceiras assumirem esses espaços predominante ocupados por homens e de como é ser um artista LGBTQIA+ no Brasil. “É um desafio, principalmente nesse país machista e homofóbico que a gente vive, os mecanismos sempre são conduzidos pra gente desistir. Quando lembro que posso inspirar e encorajar outras pessoas com minha arte, sinto uma força maior do que eu com o propósito de mudar tudo para um lugar mais justo”.

Pabllo Vittar – “Batidão Tropical vol. 2”

Quem não amou Batidão Tropical vol.2, me desculpe, corre o risco de ter seu certificado de viadagen retirado, é ruim da cabeça, doente do pé ou desbundado, pois a drag mais seguida do planeta serviu o puro suco do entretenimento LGBTQIA+ com a nova leva de versões de músicas do Norte e Nordeste do Brasil. “São amores” já nasceu hit memeático instantâneo. Aqui nos meus headphones botei pra torar, e foi sem piedade, “Não vou te deixar”, com a queen Gaby Amarantos; a modernidade phonk de “Não desligue o telefone”, com o mano Maderito; e “Rubi”, com outro amigo do Pará, Will Love, ambos da saudosa Gang do Eletro (a benção, WaldoSquash). Agora, favorita mesmo é “Pra te esquecer“, sucesso na voz da Joelma que a drag queen glorificou. Muito chatas as gravações das músicas bloqueadas? Caraleon, muito chatas, mana. Mas a queen pode tudo. O 6º álbum é brilhante.

Duda Beat – “Tara e Tal”

E não é que abril foi um mês que abriu pras gays? Duda Beat não é gay, mas é diva da comunidade, e lançou um álbum de olho nas pistas de dança, Tara e tal, o terceiro de sua carreira, seguindo com a excelente produção do maridão, o talentoso e querido Tomás Troia; e do Lux, que produziu o excelente disco solo de Julia Mestre, Arrepiada. A era clubber de Duda chegou, com música eletrônica, house, distorção, drum’n’bass, boombap, dancehall, reggaeton, trance, DM, Jersey club, drill, future bass, lo fi, funk e visuais de corar Hans Donner. Este é o primeiro álbum da artista na Universal Music, e eu levei pras minhas playlists “q prazer” e “doidinha”, que bem ouvi no repeat. Destaque também para a guitarra de seu conterrâneo Lúcio Maia, da banda Nação Zumbi, em “Drama”, faixa que abre o álbum, e para a voz de Liniker em “Quem me dera”. 

WD – “Magnético“

Ser gay é bom demais. Melhor ainda só poder viver nessa época quando as gays podem cantar as suas subjetividades e amores. O orgulho gay é a tônica de Magnético, do WD, esse cristal que foi revelado pelo programa The Voice e que acaba de lançar a segunda parte do seu álbum de estreia. E, se além de cantar e dançar muito, a gay tiver superpoderes? Pois WD tem e pinta o arco-íris de energia com sua habilidade vocal.Magnético é o álbum de um intérprete maduro que quebra tudo e ainda serve coreôs enquanto voa pelos ares no clipe idealizado por ele e Tiago Nascimento para contar a história do filho dos Deuses das Águas. Combinando elementos sonoros inovadores e um conceito narrativo rico, o projeto é uma prova da versatilidade e profundidade artística do cantor, que propõe um disco de pop afrolatino. O álbum foi produzido pela Mousik, com composições de WD, Umberto Tavares, Jefferson Júnior e Stefan Babye. O projeto traz participações de Majur, Wanessa Camargo, Lia Clark, MC Soffia e DJ 2F. Tem bolero, tango, bachata, afrobeats e pop. Diumtudo. 

Enme – “Atabake Deluxe“

Nem sempre o formato deluxe se justifica, mas alguns, como este volume de Atabake Deluxe, da maranhense trans não-binárie Enme, mostra a que veio: superar o seu álbum de origem, o bom Atabake (2022). Enme é personagem aqui da coluna Playlist desde quando comecei a pilotar a nave e destaquei o álbum, em fevereiro de 2022, e o single “Dama da Quebrada”, o puro fervo do Maranhão. A drag, que ficou conhecida do grande público graças à participação no Caravana das Drags, da Xuxa e de Ikaro Kadoshi, formando uma santíssima trindade drag com Ravena Creole e Frimes. Neste volume, ela explora novas sonoridades, como eletro, cyberfunk, house, afrobeat e amapiano. Eu já tinha destacado aqui a linda versão de “Magia Negra”, com Bixarte e S4tan, e adorei também “Inflama”, com Pantera Bl4ck, Brunoso, Marco Gabriel e Gugs. “Atabake é um veículo de conexão, de comunicação. O álbum traz o olhar sobre a ancestralidade, sobre a tecnologia e sobre território”, analisa a diva, minha amiga virtual no X. Além dos citados, o álbum tem feats com Gravnave, Faustino Beats, Baobá e DJ Eva de Lc. 

L’homme Statue – “Révolution”

O projeto L’homme Statue, do multi artista afro-francês radicado no Brasil Loïc Koutana e do produtor e DJ brasileiro gentil Pedro Zopelar, acaba de lançar o EP Révolution, que abre nova era depois do álbum de estreia SER. “Révolution” é um lançamento em colaboração com o selo do coletivo paulistano Gop Tun. Aqui em casa, hitou a versão de BADSISTA. “O EP inaugura um momento muito importante da nossa carreira e traduz sentimentos íntimos. É sobre reconexão com as minhas arte e ancestralidade. Acredito que, na vida, todos temos momentos de revolução e evolução. Que seja por algo violento ou leve, a revolução é necessária pra acessar um novo lugar de elevação pessoal”, analisa Loïc Koutana. O EP fala sobre a guerra diária que as pessoas pretas precisam travar para conquistar espaços. Além da versão “Slowed Down” do single, que traz o motivo vocal “Are you that beach?”, em um flerte com a vaporwave, o single vem também acompanhado dos b-sides “Illusion” e “Jardim Secreto”. A primeira traz sonoridade electro com “spoken word” em francês, uma viagem de ácido, uma gama de sintetizadores e programações de bateria. A segunda invoca o lado mais lúdico do duo, em português, com versos sobre a origem do pecado. Geral sentiu.

Orville Peck e Willie Nelson – “Cowboys Are Frequently Secretly Fond of Each Other“

Artista do pocnejo americano, o homem gay que nunca mostra o rosto Orville Peck se juntou ao aliado Willie Nelson, ativista e um ícone da indústria, com 67 álbuns gravados e considerado o 77º melhor guitarrista da história pela revista norte-americana Rolling Stone, para a regravação do hino gay “Cowboys Are Frequently Secretly Fond of Each Other”, que antecipa a trama de O Segredo de Brokeback Mountain. A música, lançada originalmente por Ned Sublette em 1981, foi gravada por Willie em 2009 e é belíssima, além de ser considerada a primeira música country queer mainstream de um artista de destaque. Essa nova versão ficou apenas icônica e anuncia o segundo álbum de Peck, Stampede, de duetos. “No, a small town don’t like it when a cowboy has feelings for men”, canta a letra. Arrepiou.

Leopold Nunan – “Pé de Maracujá”

O belo, sensível e poético trabalho do artista carioca Márcio de Carvalho, 54 anos, de inscrição de palavras na paisagem carioca, o “Tinha uma palavra no meu caminho”, que foi destaque na Sexta Sei, ajuda a conduzir a narrativa do clipe de “Pé de Maracujá”, terceiro single do álbum de estreia do carioca radicado em Los Angeles Leopold Nunan, o Leo from Rio, previsto para o 1º de junho. No filme dirigido por Guga Dannemann, o lettering poético por paisagens cariocas de Botafogo, Aterro do Flamengo e Igreja da Glória e pelo corpo do belo bailarino Marcio Jahú ilustram a faixa, uma lullaby pop tropicalista. A música, orquestrada, tem instrumentos de câmara, como violino de Tomaz Soares, trompete e trombone, mas também ganhou percussões feitas com tubos de PVC, em arranjo a cargo do prodígio mineiro Alberto Menezes, que assina todo o álbum. O próximo lançamento será o single “5 meters”, em 17 de maio, com clipe gravado sob chuva no inverno severo de Seattle. Já foram divulgados os singles “Quem é teu baby”, um coco com Sônia Santos e Ana Gazzola, e “Marchinha Fúnebre”.

Dornelles, DJ RD – “No Cio”

Na Semana Santa, o kingo carioca Dornelles lançou ”No cio”, single do seu primeiro EP, Só Para Maiores, que tá vindo aí. Coberto de referências visuais de Anitta, Troye Sivan e Lacruz ✝, o clipe conta com a presença de Shannon Scarllet, da primeira temporada de Drag Race Brasil, revivendo a icônica Lacraia, primeira pessoa LGBTQIA+ do Brasil a conseguir uma imagem de destaque na cultura do funk. A música mistura elementos do funk melódico do artista com o eletrônico house, trazendo uma coreografia sensual e ousada. E boys, boys, boys, de jockstrap. Sey gay é bom demais, “No Cio” já passa de mais de 60 mil visualizações.  Também em abril, saiu remix para “Mulekes do Mal” do produtor S4tan, com participação de Katy da Voz e as Abusadas. Vai, Dornelles!

Jaloo, Mu540 e Cyberkills – “Quero te ver gozar” e “Mau”

Jaloo está feliz pra caramba ao ​​adotar gênero fluido e celebrar a identidade feminina, e isso alegra demais o coração da gente, seus fãs, que só querem essa cristal feliz. Viajando pelo Brasil com o show Jaloo: 3 Eras, no qual interpreta na íntegra o repertório de seus três álbuns, ela acaba de lançar o bundle de remixes com novas versões de “Quero te ver gozar”, pelas lentes do DJ Mu540,  e “Mau”, pela dupla Cyberkills. Ambas as faixas estão em seu último álbum, Mau (2023). A primeira aparece em versão “eletrônica, visceral e dançante”, nas palavras da própria Jaloo. Ferveção.

Moreira e a redação também estão ouvindo:

*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O Globo, Tribuna de Minas, Mix Brasil, RG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.