Enquanto o Brasil segue dividido durante as eleições 2018, uma onda de crimes com motivação política tem sido relatada em redes sociais, com a grande maioria dos casos partindo de eleitores pró-Bolsonaro que usam o candidato do PSL como pretexto para os ataques. De acordo com o Mapa da Violência Eleitoral, que tem coletado depoimentos de vítimas desde 1º de outubro, já são 115 registros de agressão verbal ou física, em todo o país.

Os casos mantêm um traço em comum: são motivados por posicionamentos políticos e geralmente partem de eleitores pró-Bolsonaro, que têm atacado LGBTs, negrxs, mulheres e qualquer pessoa que seja vista usando adesivos da campanha “Ele não” ou símbolos de apoio a Fernando Haddad (PT), que disputa o segundo turno com o candidato do PSL.

No último domingo, o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, foi assassinado com 12 facadas em Salvador, após ter dito que votou no PT. Um dia antes, a técnica de enfermagem e mulher transexual, Julyanna Barbosa, de 41 anos, foi espancada por quatro homens em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que gritavam: “Bolsonaro tem que ganhar para tirar esse lixo das ruas”.

Nesta quarta-feira, 10, uma jovem de 19 anos foi atacada em Porto Alegre, porque usava um adesivo escrito “Ele não”. Além do espancamento, seus agressores também marcaram a menina com canivete, desenhando em sua barriga uma suástica. O símbolo do nazismo também foi usado por alunos de uma escola estadual, na Zona Norte de São Paulo, ao proferirem ofensas racistas contra uma professora negra.

Professora denuncia caso de racismo e apologia ao nazismo em escola da Zona Norte de São Paulo (Foto: Reprodução)
Professora denuncia caso de racismo e apologia ao nazismo em escola da Zona Norte de São Paulo (Foto: Reprodução)

As agressões chegaram até a irmã de Marielle Franco, Arielle, que foi verbalmente atacada por eleitores de Bolsonaro, enquanto caminhava com sua filha de dois anos pelo Rio de Janeiro.

Iniciativas reúnem relatos de agressão política no Brasil

Além do Mapa da Violência Eleitoral, citado acima, outras iniciativas públicas e privadas têm ajudado a monitorar a onda de crimes políticos durante as eleições 2018. O Mapa da Violência Política, por exemplo, separa os registros por localidade e já contabiliza 39 casos desde 1º de outubro. Ambos os projetos recebem denúncias online.

A Agência Pública, em parceria com a ONG Open Knowledge Brasil e a Brasil.io, também está recolhendo e monitorando todos os registros de agressão ligados às eleições 2018, através do site Vítimas da Intolerância. O projeta já conta com mais 70 casos contabilizados apenas nos últimos 10 dias. Desses, 50 foram cometidos por eleitores de Jair Bolsonaro, 15 por pessoas sem posicionamento político definido e os seis restantes foram contra os eleitores do candidato do PSL.

De acordo apenas com os registros da Aliança Nacional LGBTI, já foram denunciados 15 casos de violência política praticada especificamente contra a comunidade LGBT+, apenas no intervalo entre as votações do primeiro turno, no último domingo, e esta quarta, 10. Em um manifesto oficial, a associação reforçou como o caráter desses crimes fere a própria ideia de democracia: ” Não há democracia sem igualdade de direitos e oportunidades. Não há democracia sem respeito aos demais cidadãos. Não há democracia sem empatia. Não há democracia quando o ódio ao próximo supera o senso de comunidade, de nação”.

No que diz respeito à comunidade LGBT, há também o perfil “Ele não vai nos matar”, no Instagram, que tem recolhido denúncias e feito parcerias com advogados e psicólogs, trabalhando no acolhimento das vítimas. “Minha ideia é que a linguagem seja simples, para as pessoas verem o que está acontecendo, ao mesmo tempo em que se sintam reconfortadas por não estarem sozinhas. A gente não pode ter medo agora”, explica o produtor de moda Felipe Lago, de 29 anos, criador do projeto.

 

 

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Criada na última terça-feira, 9, a conta já tem mais de 80 mil seguidores, todos conseguidos de maneira orgânica. Felipe conta que a ideia para o projeto surgiu após ele próprio ter ouvido, em um restaurante de Pinheiros, região nobre de São Paulo, que “Bolsonaro vai matar viado”. “Fiquei assustado demais. Cheguei do almoço e postei logo o que tinha acontecido no Facebook, com local e horário. Aí meus amigos começaram a falar que tinham ouvido e visto vários relatos e que tinha um movimento similar crescendo”, explica.

No momento, Felipe administra a conta sozinho e afirma que já está em contato com advogados e psicólogos, para transformar a conta em um espaço segura de denúncia e acolhimento para LGBTs em situações de risco ou vítimas de ataques: “A ideia era mostrar o que aconteceu comigo e outras poucas coisas. Tudo o que eu não queria é que fosse tanta gente [denunciando]. São relatos que vão desde o sutil até a agressão física”.

 

O importante é que a ideia colou e, agora, ele nota um surgimento de contas similares, focadas no registro e no mapeamento desses crimes, com organização local: “Eu acho incrível ver mais perfis com a mesma ideia, principalmente nas regiões, até para ter uma ajuda mais rápida e mais próxima. Estamos todos com muito medo do que vai acontecer no Brasil, mas a gente não pode perder a força”.

Além dos canais de denúncia citados acima, a Revista Híbrida também incentiva que qualquer pessoa ameaçada, agredida (verbal ou fisicamente) ou testemunha de casos similares, ligue para o Ministério dos Direitos Humanos através do Disque 100, que funciona 24h por dia.