Nesta quarta-feira (27), o jogador de vôlei Maurício Souza foi oficialmente demitido do Minas Tênis Clube após ter publicado comentários homofóbicos em seu Instagram. O atleta, que integrou o time do Brasil nas últimas Olímpiadas de Tóquio, havia criticado o anúncio feito pela DC Comics de que o novo Super-Homem será bissexual nas próximas edições da HQ. Sua demissão foi anunciada depois de muita pressão por parte do público, dos patrocinadores e de personalidades.

Esta não foi a primeira vez que uma relação homoafetiva retratada em HQs causou repulsa entre conservadores brasileiros. Na Bienal do Livro de 2019, o ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, tentou banir o livro Vingadores, a cruzada das crianças – que conta com um beijo entre os personagens Wiccano e Hulkling -, alegando que a obra trazia “conteúdo sexual para menores”. A censura teve efeito contrário, já que obra não foi retirada de circulação e acabou esgotada em menos de uma hora no dia seguinte.

Casos como esses demonstram que a discussão em torno da representatividade LGBTI+ nos quadrinhos tem ganhado mais destaque e apoio entre uma parcela significativa dos fãs. O fim do Código dos Quadrinhos (estabelecido na década de 1950, nos Estados Unidos) e o subsequente avanço das pautas identitárias permitiram que a sexualidade dos super-heróis – anteriormente censurada ou velada nas HQs -, começasse a ser abordada e questionada de maneira mais explícita, especialmente agora que as adaptações movimentam bilhões de dólares na indústria audiovisual.

Eternos, que chegou na última semana ao catálogo do Disney+, trouxe o primeiro personagem abertamente gay do Marvel Cinematic Universe (MCU) na pele de Phastos, personagem interpretado por Brian Tyree Henry. Pode ser que vejamos mais desses relacionamentos estampando as telonas num futuro próximo. A própria vice-presidente do estúdio, Victoria Alonso, já admitiu que eles estão em busca de mais diversidade. “Nós não vamos acertar no primeiro filme, ou no segundo, ou no terceiro, ou na primeira ou segunda série, mas faremos o melhor para tentar representar consistentemente”, declarou.

Na expectativa de que o audiovisual continue acompanhando ou até liderando essa revolução, selecionamos alguns dos maiores personagens do universo dos quadrinhos da Marvel e da DC que, em algum momento, já se revelaram LGBTI+:

ARLEQUINA (HARLEY QUINN)

Arlequina já esteve envolvida em um relacionamento com Hera Venenosa (Foto: DC Comics)
Arlequina já esteve envolvida em um relacionamento com Hera Venenosa (Foto: DC Comics)

Uma das vilãs mais adoradas no universo das HQs, Arlequina já chegou a se casar com a Hera Veneosa na oitava edição da revista Injustice: Year Zero, lançada em 2020. Inicialmente concebidas como amigas e parceiras do crime, o relacionamento entre as duas se desenvolveu e foi confirmado pela própria DC Comics, incluindo até um beijo na segunda temporada da série animada Harley Quinn. A atriz Margot Robbie, que interpretou a personagem em Aves de Rapina” e na franquia Esquadrão Suicida”, já revelou que gostaria de ver a bissexualidade de Harley Quinn abordada no cinema. “Eu adoraria ver a Hera Venenosa no universo, porque o relacionamento entre Harley e Hera é um dos meus aspectos favoritos dos quadrinhos”, disse.

BATWOMAN (KATHERINE KANE)

Batwoman é uma super-heroína lésbica (Foto: DC Comics)
Batwoman é uma super-heroína lésbica (Foto: DC Comics)

A versão mais recente de Katherine Kane, iniciada em 2006 na minissérie “52“, é judia e lésbica. Na primeira temporada da adaptação live action produzida pelo canal The CW, a personagem, interpretada por Ruby Rose, protagonizou o primeiro beijo LGBTI+ da super-heroína na TV, incluindo uma cena de sexo com a bartender Reagan (Brianne Howey). No entanto, a atriz abandonou a série após denunciar práticas de assédio cometidas por parte da equipe e foi substituída por Javicia Leslie

DEADPOOL (WADE WILSON)

Deadpool é interpretado pelos fãs como pansexual (Foto: Marvel Comics)
Deadpool é interpretado pelos fãs como pansexual (Foto: Marvel Comics)

Reconhecido por fãs como pansexual, este anti-herói é famoso por dar em cima de vários colegas nos quadrinhos. Embora sua orientação sexual não tenha ficado explicita nas versões cinematográficas lançadas até o momento, o ator Ryan Reynolds, responsável por vivê-lo nas telonas, espera que o cenário mude. “Eu certamente acredito que este universo precisa representar e refletir o mundo de forma real”, revelou durante uma Comic Con, em 2018. Além de Wade, o universo deste super-herói também conta com um casal lésbico, vivido pelas personagens Ellie Phimister/Míssil Adolescente Megassônico e Yukio, presentes no segundo filme da franquia.

ESTRELA POLAR (JEAN-PAUL BEAUBIER)

Estrela Polar é o primeiro super-herói abertamente gay dos quadrinhos (Foto: Marvel Comics)
Estrela Polar é o primeiro super-herói abertamente gay dos quadrinhos (Foto: Marvel Comics)

Primeiro personagem assumidamente gay da história das HQs, Estrela Polar faz parte do universo X-Men, da Marvel Comics. Na revistaTropa Alfa #106“, publicada em 1992, o mutante declara sua homossexualidade, na esperança de conscientizar o público sobre a aids e desassociá-la da comunidade LGBTI+. Em 2012, na história Astonishing X-Men #51, Jean-Paul Beaubier se casou com Kyle Jinadu, seu parceiro de longa data.

HERA VENENOSA (PAMELA LILLIAN ISLEY)

O casal Hera Venenosa e Arlequina é um dos favoritos dos fãs LGBT+ de quadrinhos (Foto: DC Comics)
O casal Hera Venenosa e Arlequina é um dos favoritos dos fãs LGBT+ de quadrinhos (Foto: DC Comics)

Hera, que ajudou Arlequina a se livrar do relacionamento tóxico com Coringa, engatou um romance com a amiga, pelo menos nos quadrinhos. A própria DC Comics, responsável pela história da anti-heroína, descreveu o vínculo entre as duas como uma relação “livre dos ciúmes da monogamia”. Resta torcer para este encontro aparecer nas próximas adaptações de sua história no cinema.

LANTERNA VERDE (ALAN SCOTT)

A divulgação da sexualidade de Alan Scott gerou polêmica entre os fãs mais conservadores das HQs (Foto: DC Comics)
A divulgação da sexualidade de Alan Scott gerou polêmica entre os fãs mais conservadores das HQs (Foto: DC Comics)

Quando a DC reinventou a história de Alan Scott na revista “Earth 2“, em 2012, o personagem, originalmente criado em 1940, ressurgiu como gay. A revelação foi alvo de boicotes e críticas homofóbicas na internet, especialmente por parte dos fãs brasileiros, de acordo com o quadrinista James Robinson, que relatou: “As críticas mais hostis que recebi vieram de tweets do Brasil”. Neste ano, a HBO Max anunciou uma nova série sobre o herói, abordando sua sexualidade, com Jeremy Irvine no papel principal.

MÍSTICA (RAVEN DARKHÖLME)

Embora tenha tido interesses heterossexuais nos filmes, Mística é interpretada pelos fãs como bissexual (Foto: Marvel Comics)
Embora tenha tido interesses heterossexuais nos filmes, Mística é interpretada pelos fãs como bissexual (Foto: Marvel Comics)

Embora a Mística interpretada por Rebecca Romijn e depois por Jennifer Lawrence nos cinemas tenha se interessado exclusivamente por homens, sua história é um pouco diferente nos quadrinhos. Raven Darkhölme já esteve envolvida com outra mulher, chamada Sina (também conhecida como Irene Adler), considerada pelos fãs das HQs como o verdadeiro amor da mutante. As duas se beijam na revista “The History of the Marvel Universe #2“, de 2019.

MULHER GATO (SELINA KYLE)

Selina Kyle é uma anti-heroína bissexual [Foto: DC Comics]
Selina Kyle é uma anti-heroína bissexual [Foto: DC Comics]
Por muito tempo, foi especulando entre os fãs da saga de Selina Kyle que ela era bissexual. Mas apenas em 2015, com a HQ “Catwoman #39”, que a DC decidiu ser mais explícita: na história, a Mulher Gato beija a personagem Eiko Hasigawa, uma anti-heroína nas ruas de Gotham. Em 2021, a sexualidade da inimiga do homem-morcego também veio parar nas telonas: a nova versão, interpretada por Zoe Kravitz no filme “The Batman“, de Matt Reeves, também se assume como bi.

MULHER MARAVILHA (DIANA PRINCE)

Mulher Maravilha é um dos maiores ícones queer dos quadrinhos (Foto: DC Comics)
Mulher Maravilha é um dos maiores ícones queer dos quadrinhos (Foto: DC Comics)

Diana Prince, além de ser uma das mais memoráveis super-heroínas da história, é também um ícone queer. Greg Rucka, que escreveu algumas das revistas da Amazona, já declarou que ela certamente se relacionou com outras mulheres. Ainda que sua orientação sexual não tenha sido amplamente abordada nos filmes mais recentes, a atriz Gal Gadot já declarou que a Mulher Maravilha pode ser bi. “Ela é uma mulher que ama as pessoas pelo que elas são. Ela pode ser bissexual. Ela ama as pessoas pelos seus corações”, disse.

SUPER-HOMEM (JOE KANT)

O novo Super-Homem, Joe Kent, viverá um romance gay na nova revista (Foto: DC Comics)
O novo Super-Homem, Jon Kent, viverá um romance gay na nova revista (Foto: DC Comics)

Um dos mais emblemáticos heróis das HQs, o novo Superman se descobrirá bissexual (e pasme: fã de Taylor Swift) na nova edição de “Super-Homem: Filho de Kal-El“, à venda a partir de novembro. Filho do Homem de Aço original, Clark, Jon Kent terá um relacionamento com o jornalista ativista Jay Nakamura. Para o desgosto do jogador brasileiro Maurício Souza, o escritor Tom Taylor declarou que a decisão tem significado importante dentro do legado do personagem: “O símbolo do Super-Homem sempre significou esperança, verdade e justiça. Hoje, este símbolo representa algo mais. Hoje, mais pessoas podem se ver nos mais poderosos super-heróis dos quadrinhos”.,

WICCANO (WILLIAM “BILLY” KAPLAN)

Wiccano é casado com o herói Hulking (Foto: Marvel Comics)
Wiccano é casado com o herói Hulking (Foto: Marvel Comics)

Filho da Feiticeira Escarlate com o Visão, Wiccano é um personagem da Marvel que apareceu pela primeira vez na revista Jovens Vingadores #1, de 2005. Em Vingadores: A Cruzada das Crianças #9 (2012) – edição que ganhou destaque após a tentativa de censura pelo ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, na Bienal do Livro -, o herói beija Hulking, seu namorado, pela primeira vez. Posteriormente, o casal se casou na edição Empyre #4“, lançada no ano passado.