O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou do programa “Triangulando”, apresentado por Thelma de Assis em seu canal do Youtube, na noite da última quarta-feira (1º), durante o qual foi questionado sobre seu encontro recente com o deputado e pastor Isidório de Santana Júnior (Avante). O parlamentar se declara como “ex-gay”, é militar aposentado e já defendeu a terapia de conversão, conhecida no Brasil como “cura gay”, em mais de uma ocasião.
“Todos nós temos que aprender a seguinte lição de vida: você trata as pessoas sempre com o respeito e a educação que você gostaria de ser tratado. Eu conversei com o pastor Isidório como presidente de um partido político, que faz parte da coligação do governador da Bahia”, disse Lula, durante sua participação no programa, referindo-se à agenda que cumpriu no Nordeste durante as últimas semanas. “Eu não sei da história de divergência dele na questão de gênero, na questão de vida dele.”
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O pré-candidato do Partido dos Trabalhadores às eleições presidenciais de 2022, que aparece como favorito nas pesquisas dos últimos meses, recebeu uma série de líderes políticos durante sua passagem pelo Nordeste. Em Salvador, sua agenda com o governador baiano Rui Costa (PT) incluiu um encontro com o pastor Isidório, o que gerou críticas de pessoas LGBTI+ pelas declarações preconceituosas que o deputado do AVANTE direciona à comunidade.
“Não sabia se ele havia sido homossexual ou não, não tenho a menor noção. […] Foi o primeiro contato político que eu tive com o pastor Isidorio, o deputado mais votado da Bahia. Nós não entramos em discussões outras”, rebateu Lula, ao ser questionado por um internauta se o encontro com o deputado não seria contraditório para alguém que se declara progresssista. “Se ele tem divergência com trans, eu acho que é o seguinte: nós temos é que conversar e convencer as pessoas dos erros que elas estão cometendo.”
Justificativa de Lula
Lula também disse que não conheceu Isidório antes ou depois do encontro, mas defendeu que, caso tivesse a oportunidade, tentaria convencê-lo a “ser uma pessoa mais aberta, mais generosa, mais compreensiva”. O ex-presidente também respondeu a uma crítica de Linn da Quebrada, que estava presente no programa: “Se eu puder dar uma contribuição para que o pastor Isidório não tenha nenhum preconceito e nenhuma falta de respeito com vocês, eu vou fazer. E se eu puder convencer vocês a não ter com ele, eu vou fazer”.
“É que não se trata do nosso preconceito diante dele, se trata das ações que ele tem que prejudicam a nossa vida. Estamos falando da nossa vida”, rebateu Linn. “As ações do pastor legitimam toda a violência e morte perante os nossos corpos. Se a gente se compromete a mudar esse design global da violência, a gente tem que mudar também a partir da gente.”
Veja o momento abaixo:
Mais cedo, a cantora já havia cobrado de Lula que, caso ele fosse reeleito à presidência, a participação de pessoas trans, travestis e negras seria essencial para criar um mandato plural. “Não é possível, senhor presidente, que nos próximos anos, estando no comando, a gente não leve em conta os corpos trans, travestis, pretos, que [eles] não façam parte da sua equipe, das pessoas que estão próximas a você. Pra que a gente não se esqueça de lembrar dessas margens e dessas pessoas que estão marginalizadas.”
O tema do programa foi “Desigualdade social” e ainda contou com as participações de Gil do Vigor e de Celso Athayde, co-fundador da Central Única das Favelas (Cufa).
Quem é o pastor Isidório?
Deputado estadual mais votado da Bahia, Isidório de Santana Júnior já foi afiliado a sete partidos políticos, entre eles o PT, antes de entrar para o Avante, em 2018. Policial militar aposentado, ele se declara como “ex-gay” e já apresentou um projeto de lei para criar o Dia Nacional do Orgulho Hétero.
Pastor da Assembleia de Deus, Isidório já deu uma série de declarações homofóbicas, afirmando que ser gay é pecado e que a homossexualidade é uma transgressão tão grave quanto roubar ou matar. Ele também defende que a homossexualidade é fruto da “safadeza”, do “estímulo da mídia” e de pais e mães que, no período da gravidez, desejaram um bebê de gênero contrário ao do nascimento do filho.
Em 2019, Isidório foi obrigado judicialmente a pedir desculpas para Daniela Mercury, após ter gravado um vídeo no qual insultava a cantora com ofensas lesbofóbicas.