Quarenta e cinco anos após a estreia de Parceiros da Noite (Cruising) nos cinemas, Al Pacino revelou ter doado o cachê que recebeu por sua atuação à instituições de caridade LGBTQIA+. O ator explicou que a decisão foi motivada por seu desconforto com a maneira “exploradora” como o filme retratou a comunidade gay.
“Peguei o dinheiro, e era muito, e coloquei em um fundo irrevogável. Dei para instituições de caridade, e com os juros, isso durou algumas décadas. Não sei se aliviou minha consciência, mas pelo menos o dinheiro fez algum bem”, escreveu na sua nova autobiografia Sonny Boy, lançada este ano no Brasil pela Editora Rocco.
Qual a história de “Parceiros da Noite” (“Cruising”)?
O filme, um thriller policial ambientado na subcultura gay de Nova York, acompanha um detetive disfarçado (interpretado por Pacino) investigando uma série de assassinatos. Desde o lançamento em 1980, Parceiros da Noite, dirigido por William Friedkin, foi alvo de protestos de ativistas LGBTQIA+ que criticaram a obra por reforçar estereótipos negativos e prejudiciais à comunidade queer.
À época, o próprio Al Pacino optou por não divulgar a obra, acreditando que ele explorava de maneira depreciativa o universo dos homens gays. A respeito da doação, ele explicou que a escolha pelo anonimato foi para evitar qualquer percepção de autopromoção. “Eu só queria que algo positivo saísse de toda aquela experiência”, comentou o ator.
Apesar das controvérsias, Parceiros da Noite acabou se consolidando como um clássico cult nas décadas seguintes ao seu lançamento, em parte por retratar um momento histórico anterior à chegada do HIV nos Estados Unidos.
Em uma entrevista ao The Wrap em 2013, Friedkin admitiu que o filme talvez não fosse ideal para liderar a luta pelos direitos dos homens homossexuais. Ainda assim, o diretor, que faleceu 6 anos depois, defendeu que sua intenção nunca foi criticar o estilo de vida da comunidade LGBTQIA+.
“Eu só pensei que o mundo do S&M seria um bom pano de fundo para um mistério de assassinato, mas de forma alguma quis que isso refletisse o estilo de vida gay. Eu entendia, na época, que as pessoas que estavam lutando pelos direitos gays não iriam apreciar um filme tão duro. Ainda é muito intenso, muito pesado e ambíguo”, disse.
O que Al Pacino já disse sobre “Parceiros da Noite” (“Cruising”)?
Parceiros da Noite foi alvo de protestos quando chegou aos cinemas em 1980. Ativistas da comunidade LGBTQIA+ criticaram a forma como o filme retratava a comunidade gay e reforçava estereótipos negativos em relação às práticas e relacionamentos sexuais dessa população.
À época, o próprio Friedkin disse que o filme não tinha a pretensão de dissecar a comunidade e ser um grande representante do todo. Questionado sobre os protestos, Al Pacino também disse entender as críticas e justificou que as cenas de fetiche mostradas no longa-metragem era apenas “um fragmento da comunidade gay, da mesma forma que a máfia é um fragmento da vida ítalo-americano”, explicou, fazendo referência à trilogia de O Poderoso Chefão, na qual ganhou destaque como ator.
Ao longo das filmagens, Pacino e Friedkin tiveram embates notórios, admitidos e discutidos publicamente por ambas as partes.
O diretor reclamava do comportamento amador de Pacino, dizendo que ele frequentemente chegava atrasado nas gravações e nunca acrescentou nenhuma ideia ao personagem. Já o ator confessou nunca ter entendido o sentido do filme e questionou Freidkin: “Eu sou o assassino no fim do filme ou virei gay? Até hoje eu não sei, porque ele nunca me disse como interpretar a cena final”.
Al Pacino já declarou que sua intenção com Parceiros da Noite “nunca foi causar nenhum dano à comunidade gay”. Agora, em sua autobiografia, o ator revelou que a recusa do pagamento pelo filme nunca foi publicamente anunciada porque “não era para ser um truque midiático”. “Eu só queria que alguma coisa positiva saísse daquela experiência toda.”
Leia aqui nosso texto sobre Parceiros da Noite, uma das indicações da coluna Pipoc.