Estrear na teledramaturgia como protagonista não é uma tarefa fácil para nenhum ator, mas é justamente assim que Victor Liam chega para se apresentar ao público brasileiro. Com apenas 22 anos, o paulista é a estrela de Da Ponte Pra Lá, nova aposta original da Max, produzida pela Floresta para a Warner Bros. Na série, ele interpreta Ícaro, um jovem trans, preto e periférico, cuja morte trágica é a trama principal da história. 

“O Ícaro veio como um presente para mim, ele veio me trazer vida, digamos assim, porque eu era um cara muito fechado para o sentir. Primeiro ele veio me dando um presente e, depois, fui dando vida a ele”, explica Victor em entrevista à Híbrida. “Eu tive que amenizar a dor de Ícaro, porque a minha dor era diferente, era agressiva, e a dor de Ícaro não. Ele é carinha muito dengoso, lindo, então não tinha essa agressividade.” 

A vida de Victor deu um giro de 180 graus desde que ele recebeu o sinal verde para interpretar Ícaro. Poucos meses antes, o ator nascido em Guarulhos trabalhava como repositor de supermercado. Hoje, ele cumpre um cronograma agitado de entrevistas e coletivas, ao lado dos companheiros de elenco, Gabz e João Guilherme, que interpretam Malu e Enzo em Da Ponte Pra Lá, respectivamente. 

E não é apenas profissionalmente que a série mudou a vida de Victor Liam. Como um homem trans, ele conseguiu entender através do personagem alguns aspectos da sua própria vivência, como enfrentar olhares preconceituosos e ainda como ser livre para performar uma masculinidade diferente daquela que ele sempre observou nos homens cis que conheceu. 

“Eu era um cara muito fechado para o sentir. Eu achei que não podia mais sentir, que eu tinha que ser como um homem cis turrão, duro, que nem meu avô, sabe? Eu cresci assim, eu vim de um lar assim, onde eu querer ser eu não era bom”, reflete Victor. 

Gabz e Victor Liam interpretam Malu e Ícaro em "Da Ponte Pra Lá" (Foto: Ariela Bueno | HBO Max)
Gabz e Victor Liam interpretam Malu e Ícaro em “Da Ponte Pra Lá” (Foto: Ariela Bueno | Max)

“Quando eu me conheci e falei ‘eu sou um homem trans e não caibo em outra caixa’, eu comecei a me fechar muito por causa das coisas que me aconteciam. Eu não tinha poder para rebater com força, por não me conhecer tanto, e não saber que estava tudo bem. Existiam lugares em que eu ia que havia muitos olhares”, lembra. 

Victor Liam é Ícaro

Entre a periferia paulistana e um colégio de elite nos Jardins, Da Ponte Pra Cá apresenta jovens privilegiados e transgressores, bebendo um pouquinho da estética do sucesso de Euphoria para mostrar o abuso de drogas e álcool na adolescência. Com direção de Rodrigo Monte (Sessão de Terapia e Bom Dia, Verônica) e produção de Vicente Amorim (A Divisão e Rio, Eu Te Amo), a série mostra uma quebrada colorida e neon, enquanto a elite é cinza e desbotada. 

O título é uma referência à música “Da Ponte Pra Cá”, do Racionais MC’s, o maior grupo de rap do Brasil. Nos três primeiros episódios que já foram disponibilizados ao público, a cultura hip-hop tem destaque com as músicas, a poesia de slam, e o dia a dia na periferia. Temas como transfobia, luta de classes e questões raciais são abordados com uma linguagem apropriada para os jovens, mas Victor aposta que a história também vai envolver os mais velhos, principalmente com o resgate do suspense de “quem matou?”, tão comum nas novelas brasileiras de antigamente. 

“Acredito que, porque mais que a série seja para o público jovem, ela vai mexer com os adultos também. Acho que vai mudar todo um contexto de visão, principalmente sobre a comunidade LGBT”, aposta o ator. “Estou torcendo muito para que atinja não só a juventude; porque o adolescente tá se descobrindo mesmo, mas tenho muita expectativa de que a galera mais velha vai ver e se identificar.”

Veja abaixo o trailer de Da Ponte Pra Lá. E assista à série aqui