“Entra, mas não fica à vontade que eu também não tô.” É assim que o eu lírico de Letícia Novaes convida seu interlocutor em “Noite estranha, geral sentiu”, faixa do seu primeiro álbum solo como Letrux. De várias formas, o convite se expande para o conceito geral do disco “Em noite de climão”, lançado em 2017 e o primeiro (de muitos, esperamos) da artista sob essa alcunha.

Ao longo de 11 faixas, produzidas por Letícia, Natália Carrera e Arthur Braganti, a cantora, atriz e autora percorre por temas que vão de um flerte nas artes plásticas e romances platônicos a noites desvairadas pela Tijuca e os estragos da paixão por outra mulher. Com uma sonoridade própria repleta de referências eletrônicas, ela mesma descreve o projeto como “uma saga romântica desastrosa, atravessada pelos beats que te convidam a dançar a tristeza”. A proposta mostra uma  nova identidade, singular e autoral, que a afasta daquela outra conhecida pelos fãs da Letuce, banda que mantinha desde 2007 com Lucas Vasconcellos.

Nesta sexta (9), ela sobe ao palco do Circo Voador, quando fará uma participação no show da Carne Doce durante a 6ª edição do Festival Faro. Dedicado à descoberta e promoção de novos nomes da cena musical brasileira, o evento segue o sucesso do programa de rádio homônimo apresentado pela jornalista Fabiane Pereira, que em 2018 completa uma década no dial carioca. No lineup, artistas de outras regiões do Brasil, como Liniker e os Caramelows, Cícero, Tim Bernardes e Larissa Luz prometem incrementar ainda mais a noite na lona mais famosa do Rio.

Abaixo, Letícia fala com a Híbrida sobre a apresentação no Festival Faro, o álbum que já rendeu um Prêmio Multishow, uma nova base de fãs e até fantasias de carnaval, sua parceria com a musa Marina Lima na música “Puro Disfarce”, o processo por trás do neo-hino lésbico “Que estrago”, signos e, claro, noites de climão. Chega mais:

"Em noite de climão" é ""uma saga romântica desastrosa, atravessada pelos beats que te convidam a dançar a tristeza", como descreve Letrux (Foto: Ana Alexandrino | Divulgação)
“Em noite de climão” é “”uma saga romântica desastrosa, atravessada pelos beats que te convidam a dançar a tristeza”, como descreve Letrux (Foto: Ana Alexandrino | Divulgação)

Híbrida: O “Em noite de climão” tem feito muito sucesso desde o seu lançamento e acabou conquistando um grupo bem diferente do que te seguia pela Letuce. O que mudou no processo de criação como Letrux em relação à Letícia Novaes escritora e à Letícia da banda?

Letrux: Os processos são sempre variados e mudam conforme a dinâmica atual da minha vida. Quando comecei a mirabolar um disco solo, lá em 2015, já sabia que estaria com Arthur do meu lado, que é meu tecladista e melhor amigo, inclusive o nome nasceu de uma brincadeira nossa lá em 2015, mas saiu como uma piada e foi ganhando força, força e quando foi pra valer, o nome vingou, felizmente. Acho que, antes de qualquer coisa, sou escritora. Penso na música primeiro como poesia ou texto, enfim, e depois vou acrescentando melodias e ideias sonoras. Mas antes de atuar, cantar, me acho mais escritora mesmo. Tudo que eu faço antes é escrever.

H: O álbum também foi feito por financiamento coletivo. Acha que hoje, com a internet e todas as suas ferramentas, é mais fácil de um artista conseguir propagar sua mensagem? Ou acaba que o ruído em volta aumenta e as coisas se perdem?

L: Acho que as duas coisas acontecem: ficamos mais livres para propagar nosso lance, mas também ficamos ilhados muitas vezes, pela falta de estímulo, patrocínio, de atingir mais e mais pessoas por lugares que você nem sonhou tocar.

H: Você já disse em outras entrevistas que Marina Lima sempre foi uma inspiração e que ela também admira o seu trabalho desde o início. Como que rolou essa troca para ela entrar no disco? E como foi o processo de composição da faixa?

L: A Marina me chamou pra fazer uma letra do disco dela que tá pra sair agora. Fiquei super empolgada. Nos conhecemos há tempos já. Fui pra casa dela e fizemos uma letra da qual me orgulho muito. E aí, como quem não quer nada, chamei Marina pra participar do meu disco e ela topou, fiquei muito honrada com essa parceria duas vezes! A música “Puro Disfarce” é uma composição minha. Mostrei pra Marina ouvir algumas do disco e ela pirou nessa. Fiquei muito feliz e a voz dela traz todo um charme pra música.

H: Você colaborou com a Bruna Beber em “Que Estrago”, uma música que fala claramente sobre a relação entre duas mulheres. Como foi escrever sob essa perspectiva?

L: Foi muito divertido! Bruna é minha amiga há anos, uma poeta e mulher que admiro muito. A gente dá muita risada juntas, somos bobas e emotivas. Sentamos numa tarde no sofá da casa dela e fizemos a letra em horas. Pra mim foi bem natural compor sob essa perspectiva, fico muito grata quando mulheres lésbicas dizem que essa é a música delas com uma crush ou namorada, acho o máximo isso.

H: Que dica você dá pra quem não quer passar batida na festinha?

L: Bem, eu nasci com 1.85m, risos, mesmo quando estou tímida ou sem saco de falar com ninguém nunca passo desapercebida. Por isso que saio pouco. Porque quando saio, amaria ser voyeur, mas não dá muito pra mim, rá! Acho que uma dica pra pessoa não passar desapercebida numa festinha é ser espontânea, né? Se não tiver dançando, inaugura a pista. Pensou num assunto nada a ver no meio de um assunto xis, fala. Tenha medo não. Aposto que não passa batida.

H: Qual a melhor e a pior coisa de ser capricorniana?

L: A melhor coisa é perceber que meu esforço tem compensações, hahahahaha! Para além das compensações anímicas e cerebrais, da sensação de “que foda que isso está acontecendo”, tem a questão prática capricorniana, né? Você trabalha, trabalha, e aí tira férias numa ilhazinha, aí compra uma cama maior. RISOS! Muita alegria! A pior coisa de ser capricorniana é achar que eu posso resolver tudo. Já melhorei bastante, mas ainda me vejo em situações de barco afundando e eu ali jurando que vou salvar tudo, tadinha.

H: Qual o melhor jeito de criar um climão na noite? E como fugir de um?

L: Acho que a hora que você pensa “Devo ou não devo parar de beber?” é o start de cenas do próximo climão. Há pessoas quem nem se questionam se devem ou não pedir mais um drink e tudo bem também, mas pra esses acho que o climão surge antes até. Eu fujo bem de um climão, não tenho muito problema em sair à francesa ou fingir que não ouvi determinada coisa. Já me estrepei algumas vezes, hoje em dia tô fugindo.

H: Qual é o seu lugar preferido pra sair na Tijuca, com ou sem climão?

L: Moro perto da praça Afonso Pena, adoro ir ali, de dia, de tarde ou de noite. Seja pra ver bebês pegando sol ou velhinhos fazendo exercícios, seja pra comer o yakisoba delicioso de um chinês que fica ali toda noite (meus amigos duvidavam quando eu dizia que era melhor que restaurante, hoje em dia todos dizem que estão com saudades de comer lá hahahaha). Eu gosto de praça, de sentar ali, ler um livro, namorar no banco. Acho que eu sou velha.

H: O que o público pode esperar da parceria entre Letrux e Carne Doce?

L: Sou muito fã, tô empolgada, excitada e animada, aguardem TUDO, vamos botar pra quebrar. (Tá vendo, sou velha.)

SERVIÇO:

Letrux no 6º Festival Faro

Data: sexta-feira (09/3)

Abertura dos portões: 20:00

Local: Circo Voador, Rio de Janeiro

Ingressos aqui