Dois anos depois de lançar seu álbum de estreia, “Um Corpo No Mundo”, Luedji Luna reuniu um time de colaboradores e libera na próxima sexta (3) o EP “Mundo”, uma coleção com cinco faixas remixadas, incluindo “Acalanto”, que ganhou clipe dirigido por Joyce Prado. O trabalho é uma parceria com DJ Nyack, que assinou a produção de todas as músicas após uma participação de ambos em evento da Red Bull com a Nike, em abril de 2018.

“Depois do projeto que fiz com ele e Illa J, o Nyack sugeriu remixar ‘Banho de Folhas’. Quando essa música rolou no show, o público foi ao delírio. Então, cheguei e sugeri ‘Por que não fazemos um EP de uma vez?”, explica Luedji, em entrevista exclusiva à Revista Híbrida durante o lançamento do trabalho no FFFront, em São Paulo.

Assim começou a produção de “Mundo”, que foi apresentado pela primeira vez no festival South by Southwest (SXSW), em Austin, nos EUA. Nele, Luedji solidifca a versatilidade de seu som e traz parcerias com rappers como Stefanie (“Cabô”), Djonga (“Saudação Malungo”), Zudizilla (“Banho de Folhas”) e Tássia Reis e Rincón Sapiência (“Dentro Ali”).

Rodeadas de representantes do movimento nergo e LGBT, como o estilista Isaac Silva e a deputada estadual Érica Malunguinho, durante o lançamento do projeto, Luedji falou com a Híbrida sobre sua aventura no universo do rap, as colaborações do EP e a identificação de sua arte com o público. Confira a entrevista abaixo:

Híbrida: De onde veio a sua ideia de propor um EP quando o DJ Nyack ter sugerido um remix pra ‘Banho de Folhas’?

Luedji Luna: Depois do projeto que fiz com ele e Ila J pra Nike na Red Bull, uma demanda de fãs e de artistas do rap começaram a me seguir. Eu faço uma coisa completamente diferente e comecei a observar esse movimento. Então, senti que foi um momento oportuno para experimentar outro universo. Já que ele queria fazer um remix, falei “Faz ‘Banho de Folhas’ mais quatro [músicas].E então escolhemos juntos as participações e as canções que entrariam no trabalho.

DJ Nyack e Luedji Luna em estúdio durante as gravações do EP "Mundo" (Foto: Divulgação)
DJ Nyack e Luedji Luna em estúdio durante as gravações do EP “Mundo” (Foto: Divulgação)

H: E como foi o critério pra essas participações? Você comentou que não tinha muita familiaridade com o mundo do rap antes de chegar a São Paulo…

LL: Eu conhecia o Rincón [Sapiência], porque participei do clipe de “A volta pra casa”. Também conhecia a Tássia [Reis], já havíamos cantado juntas em Salvador. O Djonga me seguiu no Instagram e começamos a nos relacionar virtualmente a partir dali. O Zudi[zilla] eu conheci no mesmo dia que o Nyack, no evento da Red Bull. E a Stephanie eu já era fã desde Salvador. Então, foram escolhas festivas e também de relações próximas que a gente tinha com cada um desses rappers.

H: Como você acha que cada um deles ajudou a elevar as músicas para algo novo?

LL: Cada um desses MCs tem uma identidade própria e estão em um momento muito bom da carreira. Eu sempre fui muito curiosa com essa cena do rap aqui em São Paulo. O Zudi, por exemplo, tem uma história muito parecida com a minha, porque ele faz um trabalho primoroso lá no Sul e está chegando em São Paulo agora, como esse corpo que vem atrás de um sonho. Então, acho que foram escolhas que fazem todo o sentido, cada uma delas, com seu estilo diferente. Eles têm uma identidade própria, mas todos têm em comum a sagacidade e as rimas muito boas.

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H: Como você vê essas colaborações influenciando o seu trabalho daqui pra frente?

LL: Eu sou uma artista que me desafio muito e digo muito ‘sim’ para a vida e para o que aparece. Eu tive o convite do Omulu para fazer a parceria [em “Tô Te Querendo”] e eu fiz a música em cima da base que ele me mandou. Inclusive, tenho recebido muitos convites de colaborações, seja no afrohouse ou no rap, e gosto de experimentar. Independente das categorias, eu faço música. “Um Corpo no Mundo”, em si, é um disco muito difícil de ser enquadrado em um estilo musical específico, o que me dá muita liberdade para transitar.

H: Você falou hoje sobre a questão de estar junta dos corpos pretos e, em entrevistas passadas, você também abordou a sua bissexualidade. Como é se conectar com o público preto e LGBT através da sua arte?

LL: Isso é muito reflexo de quem eu sou. O meu eu lírico e o que eu canto é um ‘eu’ composto de muitos ‘nós’, que fala de muita gente. Então, rola uma identificação muito genuína e natural. E existe uma ausência desse referencial de corpos negros, LGBTs e femininos em ‘n’ espaços. O fato de eu ter um pouco de visibilidade e expressão é uma forma de representar essas lacunas que a gente tem em vários setores da cidade.