Nos lançamentos LGBTI+ com as principais novidades musicais de agosto, o colunista Fabiano Moreira* comenta os novos discos de Josyara, Rohma, Megan Thee Stalion e Aretuza Lovi, os EPs de Rico Dalasam e Lexa, além das faixas mais recentes de Fado Bicha, Rosalía, Anitta, Marina Mathey e mais.

Abaixo, o jornalista comenta os seus destaques preferidos do último mês. Mas como agosto foi recheado de novidades e nem todas couberam aqui, não deixe de seguir a nossa playlist abaixo para ouvir também os lançamentos de Britney Spears, Elton John, Demi Lovato, Daniela Mercury, Kim Petras e mais:

Josyara – “Àdeusdará”

Já faz um tempo que tenho prestado atenção na baiana e mulher lésbica Josyara, que bate um bolão, como na participação no disco Logo ali, do Bemti, ou cantando “Pelas Tabelas”, de Chico Buarque, na trilha sonora do documentário The Coup d’État Factory. Quatro anos após a sua estreia com o aclamado Mansa Fúria, ela volta ao disco com Àdeusdará, trabalho no qual se apresenta como produtora musical, assinando os arranjos e a direção. “Essa Cobiça” é um xote que ganhou clipe falando sobre afeto entre pessoas negras do mesmo sexo em um lindo baile no centro histórico de Salvador. Iniciado na pandemia, o processo de criação do álbum foi atravessado pela impossibilidade de realizar trabalhos criativos com outras pessoas. Mesmo assim, ela contou com as parcerias de Icaro Sá, que assina o arranjo das percussões, e Seko Bass na co-produção de três faixas, ambos músicos do BaianaSystem, além do feat com Margareth Menezes na canção “ladoAlado”

Rohma“@arrobobooy” 

“Kobra”, duo transante de Rohma e Letrux, passou aqui na playlist de junho, já anunciando o disco @rroboboy, lançado pelo italiano radicado no Brasil e com produção de Jonas Sá e Thiago Nassif. No álbum, ele canta Esquinas”, de Djavan, em italiano, que virou Solo Io”, com clipe de animação futurista. O som emula Gorillaz, Nine Inch Nails e Stromae e tem momentos bem gays e hilários, como “Strong Golden Shower”  🗣🗣🗣“Manda Nudes”.

Megan Thee Stallion – “Traumazine”

Megan Thee Stallion, jurada do programa queer Legendary, da HBO Max,  não está nem aí se essas p* que não gostam dela, pois ela é bonita pra caramba, ou “pretty as fuck”, como avisa no texto que abre a faixa “Her”, música de trabalho de seu terceiro disco, Traumazine. Nele, a rapper do Texas segue com a refinada arte de falar a maior quantidade de palavrões da forma mais elegante possível. “Ladies, love yourself cause this shit could get ugly”, conclama em “Plan B”. Nas letras, ela narra sua jornada de autorrealização e traumas. O disco tem participações de Dua Lipa e Rico Nasty, só pra citar alguns nomes.

Aretuza Lovi – “Borogodó”

A drag queen Aretuza Lovi, criada por Bruno Nascimento, já tinha passado por aqui, no mês passado, com o delicioso single “Baião de dois”, em duo com o genial Getúlio Abelha. Agora, chegou a primeira parte de seu novíssimo segundo álbum, Borogodó, no qual a drag queen goiana homenageia o Norte e o Nordeste. Em “Sócia”, ela faz feat com Lia Clark e o gatíssimo Thiago Pantaleão, com a queixa de que “o seu macho vive se atrasando pra chegar aqui em casa”. O disco mostra a paixão da drag queen pelos ritmos brasileiros, como forró, brega, calypso e rasterinha, com pitadas de funk e pop. Adoro a rasterinha “Vitamina”, na qual o hate faz a bunda da drag crescer, com letra que ainda fala sobre os ataques que ela sofre nas redes.

Rico Dalasam – “Fim das Tentativas”

Assim como em seu disco anterior, Dolores Dala guardião do alívio (DDGA), que chegou primeiro como EP, o rapper Rico Dalasam, um dos melhores letristas da atual safra de compositores brasileiros, lançou o EP Fim das Tentativas, com seis faixas, que vai se desdobrar em seu próximo álbum. O EP é uma continuação para DDGA e conta com as participações especiais do Tuyo, na faixa-título, e Céu, na canção “Guia de um amor cego”. O trabalho dá continuidade à parceria com o produtor Dinho, com batidas do rap e trap flertando com gêneros mais populares, como o pagodão baiano e o piseiro. Sempre romântico, Rico fala de superação após tantos desencontros. 

Lexa – “Magnéticah”

Lexa lançou o EP Magneticah pela Som Livre, com a faixa foco “Cavalgada”, em duo com Pabllo Vittar. Prestes a completar dez anos de carreira, a artista deu início a uma nova era, com visual repaginado. Magnéticah apresenta ao mundo uma versão mais madura da minha carreira”, conta a artista, sobre o EP com mais três faixas. Lexa será headliner no Palco Favela do Rock in Rio, no próximo dia 11. Pabllo, por sua vez, também apareceu este mês no maravilhoso remix de “Tokyo”, ao lado de Chameleo, com produção do duo CyberKills e novos versos em japonês. Ficou bem legal, manas.

Fado Bicha – “ESTOURADA”

O criativo duo português Fado Bicha acaba de passar pelo Brasil para um trio de shows pelo Sudeste e bateu um papo comigo, lá na Sexta Sei, quando anunciaram a chegada do clipe para o paso doble “ESTOURADA”, que traça uma analogia entre a violência animal das touradas e a masculinidade tóxica. A canção faz parte do disco de estreia, OCUPAÇÃO, produzido por Luís Clara Gomes, o Moullinex, e começa já avisando que “tortura não é cultura”. O duo é formado pela cantora Lila Tiago, que assina a maioria das letras, e a guitarrista e violonista João Caçador. No clipe, elas contam com as participações de Symone de lá Dragma e passarumacaco enquanto se apropriam dos trajes da tauromaquia nessa crítica contra a violência animal. Amo também o clipe de “O namorico do André”, que narra o amor entre o pescador e o peixeiro.

Rosalía – “Despechá”

Este ano ainda não nos trouxe um disco mais cremoso, desafiador e especial do que MOTOMAMI, de la Rosalía, como falei aqui na página de março. A gata, que acaba de passar pelo Brasil para show em São Paulo, também lançou o novo single “Despechá”, que se traduz como “de coração partido, desprezado”. O clipe é bem bagaceiro e tal, mas ela já mora em nossos corações e pode fazer o que quiser, porque nessa casa servimos à Rosalía e essa já é a música do verão que nem chegou. 

Anitta e Missy Elliott – “Lobby”

Anitta está maior do que nunca em “Lobby”, seu feat com Missy Elliott, uma das pioneiras do rap feminino. “This is that new Anitta suckas”, a americana avisa nos primeiros segundos da faixa sobre a vencedora do VMA. Dançante, a música faz parte da versão deluxe do álbum Versions of Me, o quinto registro de estúdio da brasileira. A nova versão traz cinco faixas adicionadas à tracklist original, incluindo parcerias inéditas com A$AP Ferg, Harv, L7NNON e Maffio. Missy teve o controle criativo do incrível clipe, já que é craque no gênero e tem filmes icônicos como “The Rain (Supa Dupa Fly)”, “Lose Control” e “Work It”. O videoclipe foi gravado no hotel The Georgian Terrace, em Atlanta (Georgia), nos EUA.

Marina Mathey – “Boneca Pau Brasil”

Estou fascinado pelo trabalho da artista multimídia Marina Mathey, que lançou clipe para o single “Boneca Pau Brasil”, faixa homônima de seu primeiro disco, que vem aí repleto de parcerias com artistas como Liniker, Lyryca e Susy Shock. A faixa é uma provocação crítica e de revisão do legado deixado pela Semana de 22, que completa cem anos, e tem produção musical de Amanda Magalhães. “Quando escrevi esta letra, estava inspirada na obra da poeta Ave Terrena e, a partir daí, debrucei-me sobre alguns temas específicos, como essa ideia do extrativismo sexual, do corpo travesti e como isso se intersecciona dentro da cultura brasileira”, completa Marina. O clipe traz “uma boneca pós cirúrgica, toda transformada e operada, o que revela um processo paradoxal: o quanto a gente se transforma para agradar os outros? Quanto disso é pelo nosso próprio agrado?”, questiona a artista.

Klüber“Ninguém Precisa”

Trans não-binárie, a cantora, compositora e musicista curitibana Klüber, que define seu som como “Pop Prolixo”, acaba de lançar single e clipe “Ninguém precisa”, que precede seu primeiro álbum. Com produção musical de Érica Silva, do Mulamba, e Leonardo Gumiero, a canção é um grunge pop no qual a artista repete um mantra de autovalorização com furor e desespero, sobre guitarras. A letra é superação de um boy lixo que não a beijava em público. “Sofri muito, e a letra só saiu na ideia de repetir uma espécie de mantra do autorrespeito: você não vai me ver sofrer, você não vai me ver. Percebi que a memória das coisas boas se esvaiu, ficou só a dor e dela ninguém precisa, o que deu nome à canção”, explica.

Antonio Sobral – “Vista”

Depois de “Mal de te ver”, de Victor Seixas, que foi destaque poético aqui em julho, trago “todas as cores em tom pastel” na música delicada, sensível e etérea de “Vista”, single que anuncia o álbum visual Marulho, estreia solo do multi-artista Antonio Sobral. A canção, sensorial, flerta com a bossa nova, o rock e progride para catarse com violoncelos, tambores, piano e sintetizadores. Antonio Sobral tem background em cinema e trajetória multimídia, passeando pela música, poesia, vídeo e artes visuais. O disco será lançado em duas etapas, com clipes acompanhando todas as faixas, basicamente um diário filmado em super 8. Chique.


*Fabiano Moreira é jornalista desde 1997 e já passou pelas redações de O GloboTribuna de MinasMix BrasilRG e Baixo Centro, além de ter produzido a festa Bootie Rio. Atualmente, é colunista da Sexta Sei.