Poucas músicas marcaram tanto a produção artística da ditadura militar como a clássica “Apesar de você”, censurada em 1970. Desde então, não houve momento que fizesse mais sentido para ele ser resgatada do que agora. Como uma gargalhada na cara do obscurantismo, Daniela Mercury reinventa o samba de Chico Buarque com as batucadas da Bahia e transforma o coro em axé, incrementando a mensagem com um clipe-manifesto em comemoração ao aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, celebrado em 10 de dezembro.
No vídeo, Daniela intercala a nata da cultura brasileira com 35 manchetes que mostram o desmonte do setor nos dois primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro, seus ataques à imprensa, episódios de censura, o apagamento de nomes pela Fundação Palmares e o combate a pautas LGBTI+.
A capa que acompanha o single nas plataformas de streaming é uma reprodução da obra “Pele tatuada à moda de azulejaria”, de Adriana Varejão, representando “os direitos humanos feridos”.
O vídeo abre com Ulysses Guimarães promulgando a Constituição Federal de 1988 e segue com nomes como Elza Soares, Margareth Menezes, Adriana Calcanhotto, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Silva, As Baías, Anielle Franco, Elisa Lucinda, Vik Muniz e muitos outros versando sobre o significado de liberdade.
Como “Apesar de você” é acima de tudo uma música de escárnio e regojizo na certeza de que o obscurantismo passa, Daniela frisa essa esperança de dias melhores no final do vídeo com manchetes positivas como o recorde de candidatos LGBTIs eleitos em 2020, como noticiado pela Híbrida, a equiparação da LGBTfobia ao crime de racismo pelo STF, e o crescimentos nas candidaturas femininas e pretas este ano. Como diz o poeta, “você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia.
Assista a versão de Daniela Mercury para “Apesar de você” abaixo: