A vitória de Donald Trump nas últimas eleições dos Estados Unidos provocou um aumento inédito de pessoas LGBTQIA+ em busca de ajuda emocional e psicológica. Desde que o candidato republicano foi reeleito à Presidência, em outubro, organizações sociais de apoio à comunidade LGBTQIA+ têm recebido um volume recorde de ligações em seus centros de acolhimento para crises, com vários relatos de medo, insegurança, solidão e até ideação suicida.
De acordo com uma reportagem do The Washington Post, a Rainbow Youth Project, uma organização não-governamental de promoção dos direitos, saúde e segurança de jovens LGBTQIA+, recebeu mais de 3.800 ligações depois das eleições americanas, superando a sua média mensal em apenas seis dias. A maioria das pessoas que buscavam ajuda eram transexuais e/ou seus familiares.
O volume de ligações e mensagens para o centro de apoio da The Trevor Project, uma organização focada na prevenção ao suicídio de pessoas da comunidade, também chegou a aumentar 700% na semana das eleições.
O principal motivo das ligações tem sido a preocupação sobre os danos que um novo governo Trump pode causar à população LGBTQIA+. Enquanto algumas pessoas relatam um sentimento crescente de solidão e isolamento, outras admitem sentir medo de não conseguirem mais acesso a tratamentos para afirmação de gênero ou de sofrerem algum tipo de agressão física motivada por sua orientação sexual ou identidade de gênero.
“Estamos recebendo essas ligações por causa do medo”, disse Lance Preston, diretor executivo da Rainbow Youth. “Medo de que vamos perder nossas crianças para o suicídio e medo dos desafios que essa nova administração vai armar.”
Um dos casos atendidos pela organização foi um adolescente não-binárie de 16 anos que confessou ter feito um pacto de “suicídio coletivo” com seus amigos caso Trump vencesse as eleições. Felizmente, a equipe do centro de apoio conseguiu intervir e impedir que o pior acontecesse.
O que a vitória de Donald Trump significa para LGBTs nos EUA?
O prognóstico de uma vitória de Trump já se mostrava desesperançoso para os movimentos sociais desde o anúncio de que ele seria o candidato republicano às eleições de 2024.
“Nós podemos esperar que, se Donald Trump for reeleito, suas nomeações para o judiciário serão ainda mais ideologicamente extremistas do que foram no seu primeiro mandato, e seriam pessoas muito mais alinhadas a uma agenda trumpista”, afirmou Michael Boucai, professor de direito da Universidade de Buffalo, no estado de Nova York, à Híbrida, ainda no início deste ano.
Entre 2017 e 2020, durante o primeiro mandato do empresário, sua administração implementou políticas que dificultaram a garantia de direitos para a população trans. Já no primeiro ano de governo, o jornal The New York Times revelou, com exclusividade, o conteúdo de um memorando do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, que propunha restringir o conceito de gênero a uma definição baseada exclusivamente em “uma base biológica clara, fundamentada na ciência, objetiva e administrável”.
Em 2023, fora da Casa Branca e já se preparando para a disputa deste ano, Trump chegou a afirmar que, caso eleito, usaria seus poderes para punir médicos que fornecessem cuidados de afirmação de gênero a menores e imporia consequências para professores que discutissem o assunto com os alunos.
Na corrida eleitoral propriamente dita, ele manteve a postura bélica, mesmo após ter sido vítima de um atentado no dia 13 de julho, quando um homem armado abriu fogo durante um comício em Butler, Pensilvânia. Com o tempo, esse episódio pareceu reforçar sua retórica polarizadora.
Com uma maioria consolidada no Senado e na Câmara, especialistas esperam que o próximo governo de Trump avance medidas restritivas em áreas como direitos reprodutivos e direitos LGBTQIA+.
No último mês, a Human Rights Campaign (HRC) emitiu um alerta sobre o aumento de propostas legislativas que atacam diretamente a comunidade LGBTQIA+. O levantamento da HRC aponta que, só neste ano, mais de 100 emendas foram apresentadas no Congresso para restringir esses direitos.
Entre os projetos de lei mencionados pela organização estão propostas que impactam o acesso à saúde para pessoas trans e a eliminação de programas públicos voltados para a diversidade e inclusão.
“A liderança republicana na Câmara dos Representantes decidiu usar os projetos de lei anuais de apropriações e o Ato de Autorização de Defesa Nacional para avançar diversas propostas anti-LGBTQIA+. Essas medidas ameaçam restringir os cuidados de saúde para pessoas trans, proibir a aplicação de proteções aos direitos civis, banir bandeiras do Orgulho e performances de drag, eliminar programas de diversidade, equidade e inclusão, e permitir licenças para discriminar pessoas LGBTQIA+”, escreveu Kelley Robinson, presidente da HRC, no relatório.
Vitória de Donald Trump provoca crise de saúde mental entre LGBTs dos EUA