Com as orientações de distanciamento e isolamento social recomendadas por literalmente todo o mundo, menos o presidente Jair Bolsonaro, a Híbrida te ajuda no movimento #FiqueEmCasa com uma sugestão de 22 séries disponíveis para assistir online por streaming. Entre clássico, novidades, humor, terror e drama, demos uma limpa pelos catálogos dos quatro maiores serviços do gênero no Brasil: Netflix, Amazon Prime, HBO Go e Globoplay. Confira o resultado abaixo:

“Pose” (Netflix)

“Pose” já merece sua atenção só pelo mérito de ter levado à TV o maior elenco de atores e atrizes trans na história dos EUA. Para além disso, o roteiro ainda resgata personagens, influências e fatos históricos da comunidade LGBTQ no século passado, guiado pelo surgimento e ascensão da cultura de voguing e ball room. É importante também frisar que representatividade nem sempre é sinônimo de talento, mas no caso de “Pose” foi, ao ponto de ser impossível escolher apenas um nome de destaque na equipe. Indya Moore é irresistível como a modelo e garota de programa Angel; MJ Rodriguez transita facilmente entre a força e vulnerabilidade da mãe Blanca; Dominique Jackson sabe o nível certo de shade e emoção para construir a boss bitch Elektra; Angelica Ross e Hailie Sahar são furacões como Candy e Lulu; e Billy Porter imprime a energia essencial para Pray Tell convencer como um mestre de cerimônias experiente.

“American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace” (Netflix)

Uma das melhores criações de Ryan Murphy, “O Assassinato de Gianni Versace” é o segundo capítulo da antologia criminal baseada em histórias reais que começou com “O Povo Contra O. J. Simpson”. Além de um merecido resgate da história e genialidade do fundador da Versace, a série usa a homofobia estrutural dos EUA, da mídia à Marinha, como pano de fundo para narrar também a trajetória do serial killer Andrew Cunanan, em papel que rendeu a Darren Criss troféus no Emmy e no Globo de Ouro. Apesar de não ter recebido o mesmo reconhecimento da crítica, Penélope Cruz também dá tudo o que as gays pediram na pele de Donatella Versace, do sotaque à forma como segura seus Marlboros. Se ainda não estiver convencido, confira aqui 10 motivos para assistir a “O Assassinato de Gianni Versace”.

“Sex Education” (Netflix)

O que não falta no catálogo da Netflix são séries adolescentes que vendem a ideia de personagens deslocados no ensino médio. Mas nenhuma delas se compara com “Sex Education” e a forma leve e divertida com que a série trata sexualidade (e todas as suas múltiplas manifestações) na juventude. Sexo lésbico, bissexualidade, aceitação e até uma aula de como fazer a chuca são temas abordados com tranquilidade por um elenco totalmente carismático e que, em sua maioria, parece adolescente de verdade.

“Crônicas de São Francisco” (Netflix)

Baseada nos livros homônimos de Armistead Maupin, “Crônicas de São Franco” (“Tales of The City”) reuniu originalmente histórias e personagens que colorem a diversidade da “capital gay” dos Estados Unidos durante a epidemia do HIV/Aids. Sua adaptação televisiva estreou em 1993 e, depois de muitas idas e vindas como minissérie, foi revivida pela Netflix no ano passado com parte do elenco principal, Ellen Page de convidada especial e novos temas, como o uso de PrEP. Ainda assim, o fio condutor principal da histo´ria permanece: o sentido verdadeiro de “comunidade” familiar entre os personagens.

“AJ and the Queen” (Netflix)

Apesar de cancelada após uma única temporada, “AJ and the Queen” ainda vale o seu tempo, muito em parte pela versatilidade que RuPaul Charles consegue entregar, mostrando porque ele criou e manteve por décadas o default de uma drag queen nos EUA. Humor, dança, lip-synch, drama, maquiagem, figurinos e referências criam a paleta de cores da série, tudo bem coberto por uma grossa camada de camp e kitsch. Usando o artifício da road trip quase nos mesmos moldes de “Priscila, a Rainha do Deserto” (veja aqui 5 motivos pelos quais o filme é atemporal), outro clássico do gênero, AJ ainda traz algumas das melhores queens de “RuPaul’s Drag Race” ao longo da viagem.

“Queer Eye” (Netflix)

O remake de “Queer Eye for The Straight Guy” saiu melhor do que o esperado. Através do carisma de Antoni Porowski, Tan France, Bobby Berk, Karamo Brown e o imbatível Jonathan Van Ness “Queer Eye” acabou atingindo o status quase universal de “RuPaul’s Drag Race” e conquistando espaço entre parte do público heterossexual. Ainda assim, não significa que o reality show tenha perdido seu apelo para a comunidade LGBTQ, seja pela escolha dos personagens que passam pela transformação com ou o grupo ou pelos depoimentos pessoais dos próprios protagonistas. Com a produção de uma versão brasileira do programa já anunciada, vale conhecer pelo menos as duas primeiras temporadas da atração para aqueles que ainda não conferiram o porquê de tanto hype.

“The Politician” (Netflix)

Longe de ser um dos maiores sucessos comerciais produzidos pela mente de Ryan Murphy – que divide a criação da série com Ian Brennan e Brad Falchuk -, “The Politician” ainda é um título que vale o esforço. A história segue o início da vida política do jovem Payton (Ben Platt, vencedor do Tony por Dear Evan Hansen) e sua trajetória calculadamente sem escrúpulos para ir do topo do ensino médio até a Casa Branca. Além do diálogo possível com a recente candidatura de Pete Buttigieg à Presidência dos EUA (salvas as devidas proporções, claro), o elenco de apoio brilha tanto quanto o protagonista e ainda traz a participação brilhante de Gwyneth Paltrow e o aguardado reencontro de Murphy com Jessica Lange.

“The Alienist” (Netflix)

Produzida originalmente pela TNT, “The Alienist” é um thriller de época ambientado no submundo da Nova York no fim do século XIX e inspirado no livro homônimo lançado por Caleb Carr, em 1994. A história narra o início dos estudos sobre psiquiatria, usando como ponto de partida um serial killer cujo alvo preferido são garotos de programa. As vítimas são inspiradas nas verdadeiras fairies que existiam em Nova York naquela época, um misto de órfãos e imigrantes jogados à própria sorte. Para os interessados, conheça aqui o verdadeiro submundo mostrado mostrado na série.

“Special” (Netflix)

A essa altura, o catálogo da Netflix já investiu tanto em diversidade que é possível encontrar um nicho da comunidade LGBTQ que raramente é abordado como coadjuvante, quiçá como protagonista: pessoas com deficiência. Em “Special”, o criador, produtor e protagonista Ryan O’Connell nos convida a sair da nossa zona de conforto e repensar nossos privilégios e possibilidades, enquanto apresenta sua realidade com paralisia cerebral, sem pesar o clima e mantendo sempre o bom humor.

“Hebe – A Estrela do Brasil” (Globoplay)

Vez ou outra começa a circular um vídeo no qual Hebe Camargo aparece defendendo o casamento homoafetivo durante sua participação no “Roda Vida”, em 1987. Pois bem, essa não foi a única vez que ela saiu em defesa dos direitos de LGBTs ao longo de sua vida e boa parte do filme estrelado por Andréa Beltrão e transformado em série pela Globo foca nisso. Mesmo que seja impossível condensar em um único título a influência que a Dama da TV teve para a comunidade, há bons episódios narrados sob a direção de Maurício Farias, como a briga que ela travou para levar Roberta Close (vivida por Renata Bastos) ao seu programa de auditório. No mais, Andréa está fantástica no papel e a história, como era de se esperar, merece ser contada e conhecida.

“American Horror Story: Apocalipse” (Globoplay)

Uma das temporadas mais controversas de “American Horror Story” para a crítica, Apocalipse parece que foi feita para agradar os fãs da antologia de terror ao resgatar personagens, histórias e mitos de suas fases anteriores. Um pouco surreal na época de seu lançamento, a ideia de um anticristo meio andrógino (Cody Fern) tentar destruir o mundo com a ajuda de magnatas da tecnologia e de bombas nucleares não parece mais tão impossível dois anos depois. E nem que o destino da Terra tenha sido salvo por uma legião de mulheres bruxas, apoiadas por Stevie Nicks e a capacidade de sobreviverem a um apocalipse que deixou o ar do planeta tóxico.

“Marielle: O Documentário” (Globoplay)

Apesar de reconhecermos todos os problemas em torno da direção de José Padilha nesse documentário, precisamos também levar em consideração que a série recebeu o aval da família de Marielle Franco. E problemáticas de lado, é inegável que nas mãos da Globo a história e mensagem da vereadora carioca, laureada ícone da resistência e luta por direitos humanos no Brasil, atinge um público maior do que em outras produtoras. Para quem só conheceu seu nome após sua trágica execução e de Anderson Gomes, essa é uma ótima oportunidade para se aprofundar em tudo o que ela fez e defendeu ao longo de sua breve, porém inspiradora trajetória.

“Segunda Chamada” (GloboPlay)

Talvez pela quantidade menor de episódios e, consequentemente, maior tempo de produção, as minisséries produzidas pela Globo sempre conseguem conquistar o público que acha o ritmo da novela muito arrastado ou seu gênero meio pastelão. “Segunda Chamada” consegue se destacar entre a ótima safra dos últimos anos, usando o sistema educacional público, mais especificamente uma escola do EJA na periferia de São Paulo, para desenvolver temas espinhosos. Débora Bloch brilha na pele de uma professora que se desdobra em muitas para dar conta de melhorar seu entorno. A estreia de Linn da Quebrada no horário nobre, então, não poderia ter sido mais bem-vinda, assim como a história de Natasha e os debates que ela levou às telas dos brasileiros.

“The L Word” (Globoplay)

O início dos anos 2000 ainda era uma época em que LGBTs encontravam representatividade apenas em personagens secundários, muitas vezes em coadjuvantes caricatos que serviam para dar humor à trama ou morrer prematuramente de AIDS ou homofobia. Duas séries americanas, entretanto, quebraram esse padrão narrativo ao colocarem protagonistas gays, bissexuais e lésbicas na linha de frente, se aprofundando em suas relações familiares, românticas, sexuais e profissionais: “Queer as Folk” e “The L Word”.  Esta última ganhou um remake no ano passado com parte do elenco principal, mas as seis temporadas originais (e ainda relevantes) estão disponíveis no Globoplay.

“A Lenda de Korra” (Amazon Prime)

É difícil ver qualquer tipo de personagens claramente LGBTs em adaptações televisivas de animes, principalmente nos produzidos pelo Nickelodeon. Em A Lenda de Korra”, uma continuação da história iniciada em “Avatar – A Lenda de Aang”, também não há menções muito explícitas sobre a sexualidade de sua protagonista, pelo menos não até o momento final, onde tudo fica meio que subentendido. Posteriormente, os criadores Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko confirmaram que Korra se casa com outra mulher, o que, óbvio, irritou nerds a torto e direito na Twittersfera.

“Will and Grace” (Amazon Prime)

Um ano após o programa de Ellen DeGeneres ser cancelado por ela ter se assumido lésbica, a NBC resolveu dar uma “Friends” pras gays e criou “Will & Grace”, uma sitcom sobre um advogado (Eric McCormack) e uma designer de interiores (Debra Messing) que resolvem morar juntos. A fórmula acabou funcionando tão bem que rendeu oito temporadas (disponíveis na Amazon) e, em 2017, entrou na onda dos remakes para outras três. Em tempos de coronavírus, problematização excessiva e tensão política, nada melhor do que o escapismo cômico dos anos 1990.

“American Gods” (Amazon Prime)

Misturando fantasia com várias mitologias, a série adaptada do livro de Neil Gaiman (o mesmo por trás de “Good Omens”, que também trabalha como produtor) mostra uma guerra entre deuses antigos e novos, personificados em seres humanos e com um ex-presidiário no meio dessa briga. Épica como é de se esperar pela premissa, “American Gods” já é coproduzida por Bryan Fuller (“Hanniblal”) tem no 3º episódio uma das cenas de sexo gay mais polêmicas da TV nos últimos anos, perdendo apenas para “Sense8” (menção honrosa desta lista, por sinal).

“Rua Augusta” (Amazon Prime)

O mundinho da rua mais famosa na boemia paulistana é explorado pela perspectiva de Mika (Fiorella Mattheis), uma socialite que foge de casa para ser stripper em um dos muitos clubes do tipo que existem por ali. Com Pathy de Jesus, Rodrigo Pandolfo e Milhem Cortaz no elenco, a produção nacional também marcou a estreia de Glamour Garcia em frente às câmeras, antes de ela ter conquistado o Brasil como a Britney de “A Dona do Pedaço”.

“Euphoria” (HBO Go)

Lançada com a premissa de mostrar o que os jovens realmente fazem quando os pais não estão vendo, “Euphoria”, coproduzida por Drake, foi além da proposta inicial ao mostrar toda uma geração de rebeldes com causa, envolvida em drogas, sexualidade fluída e até assassinato. Zendaya, que já tinha uma carreira promissora antes da série, brilha como a protagonista Rue e, ao lado de sua melhor amiga trans Jules (Hunter Scharf) ainda serve as tendências de sombra, rímel e glitter que foram fagocitadas por todas as revistas de moda nos últimos meses.

“Angels In America” (HBO Go)

Uma das produções originais mais premiadas e elogiadas da HBO, a minissérie de seis episódios é adaptada de uma peça homônima escrita por Tony Kushner e segue personagens complexos tentando sobreviver nos Estados Unidos de Ronald Reagan, em meio à chegada da Aids. No elenco, Meryl Streep, Mary-Louise Parker, Emma Thompson (como um incrível Anjo da Morte), Al Pacino e Patrick Wilson duelam performances marcantes sob a direção de Mike Nichols (“Closer”, 2004), apoiados por um texto afiado e cheio de verdades inconvenientes sobre a natureza humana.

“Looking” (HBO Go)

Olhando em retrospectiva, “Looking” não foi uma das séries mais inovadoras ou audaciosas a serem exibidas na TV, principalmente para uma geração que já tinha visto quase tudo aquilo em “Queer as Folk”. Focada na vida de três amigos gays, brancos, cis etc., a série contou com o carisma de parte do elenco principal, especialmente o casal vivido por Jonathan Groff e Russel Tovey, cativando o suficiente para duas temporadas e um filme televisivo. E para quem acompanhou a história até o final, fica o recado: justiça por Richie!

“Todxs Nós” (HBO Go)

A primeira produção brasileira da HBO voltada para o público LGBTQ segue Rafa (Clara Gallo) uma adolescente de 18 anos que ao se descobre não-binária e pansexual decide sair do interior e se mudar para São Paulo, até porque poucas cidades nesse país dariam uma chance de vida digna e autoexpressão a alguém como ela. Criada por Vera Egito (“Elis”), Heitor Dhalia (“À Deriva”) e Daniel Ribeiro (“Hoje eu quero voltar sozinho”), “Todxs Nós” estreou em 22 de março e terá oito episódios.

 

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