A Rússia apostou em mais uma ofensiva contra os direitos humanos ao incluir o que denominou de “movimento internacional LGBTQIA+” em uma lista de organizações “extremistas e terroristas”. A informação foi divulgada na última sexta-feira (22) a partir de um documento do serviço de informação financeira de Moscou que foi obtido pela AFP.
A medida, que será monitorada pela agência Rosfinmonitoring – responsável por congelar contas bancárias de mais de 14 mil pessoas e grupos designados como terroristas -, se aplica ao “movimento social LGBT internacional e suas unidades estruturais” e já fez suas primeiras vítimas.
Na última quarta-feira (20), dois funcionários de um bar gay na região de Urias tiveram suas prisões preventivas decretadas por serem de “orientação sexual não tradicional” e apoiarem “opiniões e atividades da associação pública internacional LGBT”. Agora, eles podem ser condenados a até 10 anos de prisão sob a justificativa de “extremismo”.
O antigo histórico anti-LGBT+ da Rússia
A repressão aos direitos humanos da nossa população não é novidade por lá. Durante a Copa do Mundo de 2018, um ativista foi preso ao protestar com uma bandeira do arco-íris em Moscou. Um ano depois, um site inspirado nos filmes Jogos Mortais e dedicado à exposição, perseguição e tortura de pessoas da comunidade no país levou à morte da ativista Yelena Grigoryeva, de apenas 41 anos, após ela ter sido presa previamente por infringir a lei que proíbe a “propaganda gay” – em vigor no país desde 2013.
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Em 2021, o presidente Vladimir Putin (então recém-reeleito para outro mandato de seis anos) aprovou uma série de emendas constitucionais que proíbem o casamento entre pessoas do mesmo gênero e impedem travestis e transexuais de adotarem.
A situação piorou após o início da guerra na Ucrânia, quando o parlamento encrudesceu a lei que restringe a “propaganda LGBTQIA+”, passando também a proibir a “promoção de orientações sexuais não tradicionais” dirigidas a adultos. As emendas foram aprovadas por unanimidade sob o argumento de defender os valores da família em oposição a “decadência” dos costumes ocidentais.
Mais recentemente, em 2023, a câmara baixa do parlamento russo votou a favor de uma nova lei que visa a proibição das cirurgias de redesignação sexual no país, dificultando quase toda ajuda médica dedicadas às pessoas transexuais. A medida também impediria que cartórios alterassem documentos oficiais com base em atestados de transição de gênero.
A perseguição russa também teve impacto nos países vizinhos, como a Chechênia, que em 2017 foi exposta por manter campos de concentração para gays. A história, publicada em primeira mão pelo jornal Novaya Gazeta, foi o ápice de uma longa jornada de perseguição promovida pelo líder checheno Ramzan Kadyrov, que seguia de forma mais agressiva os passos de seu líder e aliado Putin.
“Essa situação inteira é impensável, e nós mesmos não acreditaríamos que isso estivesse acontecendo alguns anos atrás. Isso é um crime contra a humanidade. E ainda assim, há poucos países dispostos a tomarem alguma atitude”, disse Natalia (nome fictício por questões de segurança), integrante da organização Russian LGBT Network, em entrevista exclusiva à primeira edição da Híbrida.
“Há vários problemas por aqui. Primeiro, existe a negação de que homossexuais sequer existam”, continuou Natalia. “Depois, descobrimos que as próprias autoridades locais estão envolvidas nos crimes. Nós inclusive tivemos testemunhas que viram essas pessoas serem capturadas.”
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