A FIFA anunciou que vai permitir a entrada de bandeiras do orgulho LGBTI+ nos estádios da Copa do Mundo 2022, sediada no Catar e com início previsto para o próximo dia 20. A declaração foi dada em resposta a uma série de questionamentos enviados diretamente pelo Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+.

“A FIFA dá as boas-vindas a todos em seus eventos e as bandeiras do arco-íris foram e serão permitidas nos estádios para todas as partidas da FIFA”, esclareceu a organização em um comunicado oficial enviado ao coletivo das torcidas de futebol LGBTI+.

O posicionamento da FIFA vai na contramão da declaração feita ainda este ano pelo major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, um dos dirigentes de segurança do comitê organizador do Mundial. Em abril, ele disse que o Catar vai permitir a entrada de turistas e torcedores da comunidade LGBTI+, mas não aceitaria bandeiras do arco-íris dentro dos estádios.

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“Se um torcedor levantar uma bandeira de arco-íris e eu tirá-la de sua mão, não será porque eu quero ou porque o estou insultando. Será para protegê-lo. Porque se eu não fizer isso, alguém poderá atacá-lo. Não posso garantir o bom comportamento de todos. E vou dizer ao torcedor: ‘Por favor, não é necessário levantar a bandeira neste local'”, disse à Associated Press.

Em julho, o diretor da Federação Galesa de Futebol, Noel Mooney, pediu “bom senso” aos torcedores LGBTI+ que forem ao Mundial. “Temos uma comunidade LGBTQ muito forte entre nossos torcedores e um bom número vai viajar, com certeza. Falaram que haverá tolerância, mas mesmo um casal heterossexual não pode mostrar afeto publicamente nas ruas. Pode ser visto como provocação”, disse.

O argumento foi visto à época como um forma de não ir contra as diretrizes da FIFA, já que a entidade máxima do futebol garante ter tolerância zero com qualquer forma de discriminação. Ao mesmo tempo, inibe qualquer tipo de apoio expresso à diversidade, no maior torneio mundial de um dos esportes mais hostis à comunidade LGBTI+.

A homossexualidade é proibida no Catar, com base na Sharia, a lei islâmica. Ser condenado por ter relações íntimas com pessoas do mesmo gênero pode resultar em prisão de até 7 anos ou mesmo uma condenação à morte, no caso dos homens.

Ainda em dezembro do ano passado, o presidente-executivo da Copa do Mundo de 2022, Al-Khater, pediu que os torcedores LGBTI+ mantivessem a discrição durante a estadia no país do Oriente Médio: “Se as pessoas seguirem o conselho de não manifestarem seu afeto publicamente, não acho que poderão ser identificadas”.

A FIFA ainda não esclareceu como pretende garantir na prática a segurança dos torcedores LGBTI+ no Catar durante o Mundial ou evitar que a presença de bandeiras do arco-íris gerem retaliação nos estádios. Segundo a Canarinhos, a organização enviou uma série de esclarecimentos sobre o tema ao coletivo, que pretende divulgar as indicações completas nos próximos dias.

Durante a Copa do Mundo de 2018, sediada na Rússia, a comunidade LGBTI+ enfrentou problemas similares antes mesmo de a bola rolar. O ativista britânico Peter Tatchell foi detido em Moscou, horas antes da cerimônia de abertura, por ter levantado um cartaz com os dizeres “Putin falha ao agir contra as torturas de pessoas LGBTs na Chechênia“.

À época, o mundo estava em choque com as denúncias de que a Chechênia mantinha “campos de concentração” onde prendia, torturava e assassinava cidadãos acusados de serem homossexuais (relembre na nossa matéria especial aqui). O tratamento seria aprovado por Vladimir Putin, que também já deu suas próprias declarações homofóbicas em mais de uma ocasião.