O Papa Francisco voltou a dar um aceno discreto de aceitação à comunidade LGBTQIA+. Dessa vez, o representante máximo da Igreja Católica deixou aberta a possibilidade de abençoar casais homoafetivos, considerando o que chamou de uma “caridade pastoral” para aqueles que solicitarem a bênção.

A declaração foi feita em resposta a cinco cardeais conservadores na “dubia”, uma espécie de canal de dúvidas em que o pontífice recebe perguntas sobre temas variados. O questionamento foi feito em julho, mas divulgado pelo Vaticano na última segunda-feira (2).

“Não podemos ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem”, disse Jorge Bergoglio, o Papa Francisco. “Quando se pede uma bênção, expressa-se um pedido de ajuda a Deus, uma súplica para viver melhor”, acrescentou.

Ainda de acordo com o Papa Francisco, cada pedido de bênção seria analisado caso a caso pela Igreja, algo parecido com que já vem acontecendo em alguns países como Bélgica e Alemanha, com a permissão dos bispos locais. Agora, o próprio Vaticano pode permitir que o ato seja amplamente praticado a nível global.

No entanto, a bênção proposta pelo Papa Francisco ainda não foi oficializada. O próprio pontífice frisou, inclusive, que a Igreja segue entendendo o casamento como uma “união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher”.

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Coincidentemente, as declarações foram dadas no momento em que o Brasil volta a discutir a legitimidade dos casamentos homoafetivos, graças a um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados e pretende tornar essas uniões ilegais. Apesar de este já ser um direito garantido pelo Supremo Tribunal Federal, parlamentares da Bancada Evangélica tentaram incluir no Código Civil um artigo que também defina o casamento como apenas a “união entre homem e mulher”.

A pauta está prevista para ser retomada na próxima terça-feira (10). Até lá, a expectativa é que seja redigido um novo texto para o projeto, segundo o qual o casamento homoafetivo teria sua legalidade reconhecida, mas templos religiosos não seriam obrigados a oficializar essas uniões.

Morde-e-assopra do Papa Francisco e pessoas LGBTQIA+

Em um documento assinado por Francisco em 2021, a Igreja Católica estabelece uma diferença entre “acolher” e “abençoar” pessoas LGBTQIA+ ou casais homoafetivos. O texto defende que reconhecer uniões entre pessoas do mesmo gênero seria confuso e poderia equiparar essas relações ao casamento.

“A prudência pastoral deve discernir adequadamente se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não transmitam um conceito equivocado de casamento. As decisões que podem fazer parte da prudência pastoral em certas circunstâncias não devem necessariamente tornar-se uma norma”, destacou.

Essa não é primeira vez que o Papa Francisco acolhe a comunidade LGBTQIA+. Há dois meses, o argentino disse a uma mulher trans que “Deus nos ama como somos”.

Já no ano passado, o sumo pontífice recomendou aos pais de jovens homossexuais que “apoiem seus filhos se eles forem gays”.

As declarações, entretanto, seguem um eterno morde-e-assopra de Francisco desde que ele assumiu seu papado, em 2013. Se por um lado ele sinaliza que a Igreja poderia ser mais receptiva com pessoas LGBTQIA+, por outro ele reforça os dogmas conservadores pelos quais o Catolicismo têm se guiado ao longo dos milênios. Nesse sentido, qualquer avanço efetivo e oficial do Vaticano em relação à comunidade parece distante de se tornar uma realidade fora da oratória.